segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Bela e a Pêra.

Bela era bela, possuía belos cabelos castanhos tímidos, belos olhos marceneiros de um olhar longe, bela pele suave, belos lábios rosados. Andava sem preocupações mas com pensamentos e esperas. Chegou em uma rua e só chegou à metade do caminho, seu celular tocou e então foi conhecido seu belo sorriso. Encantador. Sincero e singelo, doce e refletia o leve sol de fim de tarde. Não era preciso ser um admirador de sorrisos para admirar o tal. No celular, ninguém ouviu, não havia ninguém por perto, nem sua poodle se importou, mas certamente era aquela pessoa especial. Sabe-se lá se ela é heterossexual para denominar no masculino, mas certamente não era um amigo chegando de viagem, um parente com saudade, uma amiga com quem tinha se desentendido e se entendido novamente. Com certeza era uma pessoa especialmente em especial. Podemos chamar de pêra. Independe o nome, era especial. Um especial distinto, que te extrai algo sem te tocar um dedo. O especial, neste caso a pêra, que muda o contexto inteiro, o cenário, o clima, o humor. A pêra é capaz até de mudar o cheiro que o vento carrega, o julgamento com a primeira pessoa que passa na rua, os planos para o fim do dia e, principalmente, o destino. Por que nossa bela chegou só até metade de uma qualquer rua? Porque desviou seu andar no momento em que seu sorriso bateu de forte junto com a parte de falar do celular. Uns passos, uma virada e de volta de onde veio. Perdi a bela com os minutos, portanto não tenho como informar o destino, o princípio de volta, o carma, seja lá o que for. Mas sei dizer que me fez voltar a acreditar e querer eu ligar para a minha pêra. Me fez não sentir inveja, raiva ou ciúme por alguém ser feliz, mas sim admirar a felicidade da bela e querer ser feliz também. Me fez lembrar que eu também sou. Por um instante, me veio na cabeça uma imagem de eu mesma recebendo uma mensagem da minha pêra e sorrindo. Eu nunca me vi sorrindo, ao receber a mensagem da pêra, mas algo me diz que é igual. O mesmo sorriso leve e radiante, a mesma energia... E me fez pensar em como uma pêra pode ser capaz de mudar tanto uma pessoa, na verdade, como a relação das pêras é. Não basta só a pêra, tive pêras já sem eu ser uma maçã, por exemplo. O que realmente é preciso é da fruteira, onde a maçã e a pêra ficam juntas. Ai, ai, Bela... você me fez escrever metáforas com frutas! Ou será que foi culpa da minha pêra? Se eu não a tivesse, sacaria tudo isso, interpretaria tudo isso, do mesmo jeito, ou você seria só mais um ser humano passando pela calçada direita? Espero que seja a primeira opção, não me basta ter reflexões e filosofias às sete de um horário de verão, só por causa de uma pêra que ainda nem está na fruteira.

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