sábado, 25 de setembro de 2010

Conto [4]

A menina da cidade pequena não se acostumava com aquela grande capital, não se acostumava com a constante mudança e a normal confusão. Diante de tantas pessoas, tantas vozes e tantas luzes, só conseguiu enxergar uma em sua frente. Pela primeira vez ela se sentia capaz de alcançar o que queria, quando bem queria, quando estava perto do loiro pelo qual se apaixonou. O céu não era o limite, o céu ainda era pouco, ela conseguia ir além enquanto trocava sorrisos com o futuro ex-namorado. Na sua cidade, as coisas eram diferentes, eram mais lentas e cuidadosas. Além de tudo estar acontecendo muito rápido, um dia ela acorda diferente de quando foi dormir; com um sentimento a mais, preenchendo uma alma tímida e perdida, que tinha o maior medo de sair do corpo em direção ao mundo. Foi se tornando melhor amiga, confidente, conselheira. Ouvia histórias enquanto apreciava o sorriso, não entendia as reclamações, apenas fingia, pois se perdia na voz sublime do novo amigo. Começou a se sentir vulnerável e então, amedrontada, colocou-se na posição de tomar a atitude mais fácil, que seria esquecer, antes mesmo de se comprometer. Não conseguiu, era inocente demais para já ter sucesso se enganando no amor. Foi o primeiro amor. E durou. Por um tempo, claro. E como todos os primeiros amores, acabou. Mas ela levou mais do que um ex-namorado como história, levou amadurecimento e, de verdade, cresceu. Com o segundo ex-namorado, moreno desta vez, foi tudo mais intenso e duradouro. Também acabou. E ela também aprendeu. Ela tinha um ritmo diferente da grande cidade. Às vezes voltava para a casa da mãe quando tinha uma discussão, ia para a casa da vó para chorar e pedir conselhos - sim, acreditava na experiência dos mais velhos, abraçava o avô para sentir o cheiro do charuto e perder as preocupações na fumaça. Às vezes se sentia uma criança indefesa, mas ela só era uma menina da cidade pequena. E o próximo ex entendia isso. Mas só entendia porque ela entendeu antes. E para isso, foi preciso dos dois ex anteriores.

Você continuou comigo.

- Te amo.
- Te amo mais.
- Ama nada.
- Claro que amo.
E blá, blá, blá. Nos amamos. Basta, né? A intensidade é a mesma. - Ou não, eu amo mais. A confiança é a mesma. O carinho é o mesmo. A dedicação é a mesma. Temos ciúmes nos mesmos momentos, compreendemos as mesmas justificativas, conhecemos os mesmos olhares, e o mais importante, compartilhamos as mesmas histórias. Sim, você tem outras histórias, as suas, com outras pessoas, sozinha, com sua "cã" e com seus ex-namorados. E eu tenho as minhas, algumas sozinha, outras com outras pessoas, e várias com meus possíveis ex-namorados mas que nunca foram meus namorados. Mas eu conheço as suas histórias e tenho medo da sua "cã", dei conselho pelo telefone enquanto fazia bicicleta e ouvi a história do canalha do seu ex. E você ficou perplexa com as minhas histórias, com o quanto eu sou louca e com como podem certas coisas acontecerem comigo, sendo que só acontecem em novelas. - mexicanas -. Eu lembro do seu antigo apartamento, de onde ficava o nescal, do varal e do microondas, no qual fazíamos pipoca amanteigada para assistirmos a filmes, sem nos importarmos com o fato de a sua mãe ficar uma fera por você impregnar a casa com aquele cheiro de manteiga! Eu sei do seu estilo para comprar Jeans e você do meu para cremes. Você me ajudou a descobrir a minha identidade, você lembra de mim rebelde, você me viu crescer. Você me incentiva, enxerga e valoriza os meus talentos. Você ficou triste quando nossos destinos mudaram e não nos encontrávamos mais com tanta frequência. Não me ver mais diariamente te abalou. Mas você continuou comigo. Minha família lembra de você, e sente falta de você aqui em casa. A sua família lembra de mim e sua mãe me deixa recadinhos fofos no Orkut. Você não se esqueceu, você ligou, você deixou recados, você se interessou pela minha nova vida e minhas novas histórias. Passaram anos e você continua aqui. Um dia eu li: "Quem tem que ficar, fica." E hoje eu percebi que você é a maior prova de que essa frase é verdadeira.

Conto [3]

Ela gostava de tomar café. Então ela foi à uma cafeteria. Ela conheceu um moço, lá. Na verdade ela não o conheceu, pois quando conhecemos alguém, sabemos o nome da pessoa, o tom de voz, algumas informações básicas como idade, profissão e interesses. E claro, estado civil. Nada. Ela não sabia nada. Era um dia, em uma mesa, olhando para o lado, e olha! Ali estava ela fascinada por alguém que não conhecia. Não era um dia comum, o céu estava pintado de cinza com tonalidades de pastel. Não tinha o mesmo cheiro de cidade urbana, a chuva tinha chego na noite passada depois de um grande intervalo de tempo sem aparecer. As pessoas não estavam comuns, estavam mais bonitas, parecia. Dizem que no frio as pessoas tem essa mania, de ficarem mais bonitas. É, estava frio. E estava todo mundo mais bonito. Com casacos e cachecóis. As folhas das árvores dançavam, os cachorros não latiam, e a cafeteria estava bem mais decorada naquele dia. As mesas também não eram comuns. Não eram mais mesas com garrafas de cervejas, pratos com pães de queijo; tinha um belo moço com traços fortes em uma mesa ímpar. Ela não tinha ido trabalhar, então só queria o dia de folga, com seu livro e seu café. Ele... bom, ele estava lendo jornal. A visão dela começou a desfocar da rua e das calçadas quadriculadas e se entreter somente para a mesa 43. Ele estava na mesa 43. Ele estava lendo um jornal e isso já era um grande passo! Inteligente! Culto! Só espero que ele não esteja lendo classificados, . Ou sobre carros. Ou futebol. Pensou ela. Tá, futebol até que podia. Mas depois, por um tempinho, com um prazer e satisfação, de preferência interessado no São Paulo, mas não com tanta intensidade que nem ele olhava para aquele papel naquele momento. Ela reparou tanto que existe a possibilidade de ele ter percebido. É. Ele percebeu. Ele riu. Ela viu o lado bom disso; além de uma barba encantadora, tinha um sorriso que de tão brilhante refletiu nos espelhos do balcão à metros de distância. Ele virou a página do jornal e ela conseguiu ver sobre o que ele lera. Política! Que belo! Será advogado? Jornalista? Não importa, ele se interessa por política, que lindo! Ela continou pensando. Moça, quer que eu traga outro café? Disse o garçom reparando que, desde que a servira, não relou na xícara. Não, não, eu quero saber se... Bom... Não devo... Ah, deixa pra lá. O garçom não entendeu e deixou mesmo pra lá. Ela continuou encarando tanto o cara da 43, que nem percebeu o quanto estava sendo insistente nos olhares. Não era de seu costume fazer isso. Mas ele tinha algum ímã, só pode. Devia ser pegadinha de algum programa de TV, colocaram nela sem querer e estavam testando o seu comportamento feminino... Sabe-se lá o que mais ela pensou. Ela era paranóica. Depois de alguns minutos, ele guardou o jornal e abriu uma bolsa-pasta. Ela sabia que agora tinha que desviar o olhar. Sei lá, tomar o café gelado, ler o índice do seu livro, prender o cabelo, fingir que está falando no celular; tudo menos continuar encarando. Mas a curiosidade era tão forte, que fez então ela continuar encarando-o. Quando ela viu que ele tirava de lá papéis verdes e reparou nos destaques das palavras Meio Ambiente, Protesto e Petição, não conseguiu não arregalar os olhos. Ele olhou e compreendeu. Ela pensou: basta. Ele percebeu! Na cafeteria tocava música. Normalmente MPB, Bossa Nova, Rock Clássico. Às vezes Pop, Axé, Sertanejo Universitário, dependia do horário. Naquela manhã estava tocando as clássicas. Tocou Lô Borges. Ele acompanhou a música por um momento. Ah, é isso... entendi... ele é perfeito. Pensou ela. O relógio da cafeteria se adiantava e ela foi conhecendo ele ao passar de cada inclinação dos ponteiros. Ele foi à mesa dela, pediram sucos e sanduíches, já estava na hora do almoço e os dois conversavam sobre tudo. Conversavam sobre relacionamentos e família. Sobre 1929 e 1969. Sobre instituições e música. Sobre documentários e banalizações. Sobre ciência e fundamentalismo. Sobre o Código Florestal e as festas de trabalho. Não, ele não era jornalista. Nem advogado. Conversaram, riram, se sentiram bem e não trocaram telefone. Nenhum pediu, nenhum quis. Havia um bom tempo em que ela não se sentia tão a vontade com alguém sem pressão, sem ter antes conhecido e sem saber que depois iria ter contato físico. Foi uma ligação estranha e confortante. Nem e-mails trocaram. Se despediram sem beijo, mas seus corpos se encaixaram no abraço. Foi realmente um prazer terem se conhecido. Ela nunca tinha vivido um amor de verão, mas viveu aquilo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Me cobri.

Decidi não pensar mais. Atendi o telefone. Mudei o pensamento. Vi uma foto antiga sua. Voltei ao pensamento. Li Machado de Assis. Li sobre a revolução de 1930. Li sobre Vargas. O rádio estava ligado. Começou a tocar uma música que, excepcionalmente - ou banalmente, me lembra você. Senti frio, um certo medo, insegurança. Puxei o edredom. Fora do quarto, 40º graus. Me cobri. Peguei a caneta, uma página do caderno mais próximo, e fiz o de costume: comecei a escrever. A música acabou, e ao mesmo tempo me descobri do edredom. Não me vinha mais aquela tristeza ao pensar que fiz tudo errado e me arrependo. Só me vinha o querer de saber de você. Está bem? Está dormindo, agora? Provavelmente, não está pensando em mim. Tocou outra música. Uma das daquele CD. Você acredita em auréola? Peguei o celular. Apertei play no vídeo que te filmei. Sorri na parte em que você mexe a cabeça para a esquerda. É tão gracioso! Eu acho. Outra música. Esta, fala de detalhes. Enquanto eu reparando em seus braços e na sua blusa azul clara. O tom da música combina com a imagem. Pensar em você, e escrever, de novo, não combina com o horário e com os meus compromissos para amanhã cedo.
"Se o homem já pisou na lua, como ainda não tenho o seu endereço?"
Aumentei o volume. Desliguei o celular. Desliguei o rádio.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Seja feliz.

A cada dia que passa me surpreendo mais com que mais pode me doer. Quando ouvi sobre aquela sua possível namorada, pensei que era uma das maiores dores possíveis. Não foi. Quando me joguei no sofá chorando como nunca antes por você ter tido uma imagem errada de uma atitude minha, vi que essa devia ser a pior sensação. Mal sabia eu! Quando fiquei por tanto tempo sem te ver, ultrapassou. Foi o que mais me doeu até então. Nunca havia antes vivido algo mais doloroso. Daí, ao passar do tempo, fui brincando de sofrer. A cada intervalo uma dor diferente, mas eu até gostava, acho. Talvez só essa explicação para eu ter conseguido viver com tanto. Então, bati o recorde de dor quando tive a certeza que mais esperei por toda a minha vida, quando ouvi o seu não, quando senti a frieza dos seus olhos e das suas palavras. Depois disso, pensei que nada podia me machucar mais. Então, aqui estou eu escrevendo sobre algo pior. Saber que você disse que outra é a única que enxerga quem você é e como você se sente, destruiu o pouco que me restou depois daquele dia há 3 semanas e 2 dias atrás. Eu, que há anos te defendo, me importo e te adoro, me entristeço quando te fazem mal, brigo e luto contra quem tenta te atacar, te defendo quando te difamam, passo o dia preocupada em saber se você chegou bem na casa da sua mãe, quero te ligar à noite antes de dormir pois só assim consigo dormir completamente em paz, depois de ouvir sua voz, analisar se você está bem através de seus suspiros... e é qualquer outra, que te pergunta algo por mera educação, que é a única que te vê por trás de tudo que você é? Nada pôde me destruir mais, eu juro. Isso foi tanto para mim, que prefiro encerrar tudo aqui. Toda a história que sozinha escrevi, todo o sentimento que cultivei e toda a preocupação que simplesmente senti por você, sem esperar nada em troca. Simplesmente senti. Simplesmente amei. E você, seja feliz! É tudo que espero, sinceramente, tudo que sempre esperei. Torcerei pela sua felicidade sempre. E eu, vou tentar superar. Depois de ter passado por todo esse tempo me dedicando a tal sentimento, me preocupando sem ser preocupada, procurando sem ser procurada, esperando o dia em que você perceberia que eu realmente me importo e por isso sou diferente de todas - pois meu sentimento é muito diferenciado, ele é profundo -, saber que enfim você disse tudo que eu mais quis ouvir, mas para outra... é o máximo que eu posso aguentar. Não sei nem se vou aguentar. Mas é o meu limite, o meu ponto final. E você, seja feliz.

Dói.

Quer saber como me sinto? Bom, posso dizer que dói. Quer saber o quê dói? Bom, acho indiscritível. Não que a dor seja infinita, mas digo espalhada. Intensamente espalhada. Se tornou dor física. Pode achar estranho, eu também acho. Não sinto fome, perco ânimo, perco força. Não consigo sair da cama, é como se eu fosse um íma e o colchão outro. Choro, e soluço. Antes, chorava com a boca fechada, agora é tanto que choro igual em filmes, sabe? Com a boca aberta e de careta. Surge pontadas, ânsia, uma dor no estômago tão forte que pode ser confundida com gastrite. Ou causar uma. Perco o ar. De verdade. Tenho que respirar fundo e entro em desespero por não conseguir manter a minha respiração no ritmo normal. Água não ajuda e dormir só piora, pois sonho com você. E aí, quando acordo, meu bem, é ligar o rádio e abraçar a depressão. Minha cabeça dói, não consigo prestar atenção em coisas importantes, as minhas coisas. Dá tontura, vejo duas de uma só pessoa por um momento. - tá, dessa vez foi hipérbole. Mas é verdade que me dá tontura, e realmente não vejo uma pessoa de uma forma normal, é tudo mais... confuso, agitado. Minha pressão cai, eu tremo, meus olhos ardem. Acabo quase sempre na mesma: escrevendo sobre. Mais? É, deve ter mais... Mas você não se importa, né?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Adormeço.

Em tudo que leio está seu nome. Em tudo que vejo, constantemente, encontro seu rosto. O homem fala e eu não consigo absorver suas palavras. Atrás da janela ao lado, a chuva reflete os meus sentimentos mais semelhantes à ela e eu me surpreendo com o quanto com que ela consegue se identificar. Adormeço aos poucos sentido seu cheiro, o único capaz de me sugar a cada troca gasosa do meu pulmão. E adormeço triste, por não estar isso fazendo em seus braços, ouvindo o som mais belo que é o do seu batimento cardíaco.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Você esteve lá.

Te valorizo porque sei do seu valor. Te conheço tão profundamente que posso dizer muito de você. Eu juro que não estava aguentando ficar sem você. Me atormentava passar por perto e não poder te abraçar, me entristecia entrar no meu quarto e ver nossa foto no mural. Eu me perguntava porquê, todos os dias. Refletia tentando descobrir quem estava errada, até o dia em que percebi que não havia errado. Não conseguia acreditar na possibilidade de você, justo você, não se importar. Bom, eu me importava. Só queria tudo novomente; desde os cafés aos filmes, das risadas às lágrimas, dos telefonemas interruptos às intimidades só por nós entendidas. Acontecia algo e lembrava de ter que lhe contar. Te via e tinha que me calar. Ouvia nossas músicas e juro, não conseguia acreditar. Quando você apagou nossas fotos, nossos textos e nossa história, pensei que tinha me apagado junto. Hoje vejo que não. E como agradeço! Vai além de um depoimento. Vai além de um dia de conselhos. Se trata de dedicação, de companheirismo, cumplicidade. Envolve segredos, histórias, saudades, planos. É um afeto que não sinto com tanta profundidade por qualquer pessoa, mesmo eu sendo tão carente e estilo canceriana, mesmo. Temos o mesmo gosto para perfumes, cremes, e ainda bem que não para homens. Temos a mesma disposição para ajudar uma a outra. E quando eu pude te abraçar de novo, depois do nosso maior tempo sem ligação, senti que tinha que ser assim. Eu e você, tem que ser assim. Não consigo imaginar como seria a minha vida sem ter te conhecido. Você esteve comigo quando eu estava com medo de entregar o presente. Você foi ao teatro. Você me ligou no dia seguinte perguntando "e aí?" Você esteve lá. Você não me abandonou quando eu chorei por quem mais amei. Você me apoiou e acreditou comigo. Você abriu meus olhos. Você sempre se importou. Você cresceu comigo. Você incentivou meus sonhos e foi a minha primeira aluna. Você sempre optou por me ajudar sem me fazer sofrer. Você continuou comigo, mesmo longe. Você me perdoou quando eu errei. Você pediu perdão quando errou. Você foi meu diário e em você depositei, ultrapassado o limite, toda a minha confiança. Com você sou exageradamente sincera, desde atos à palavras. Com você não tenho medo, você é meu porto seguro, definitivamente. Você me conforta quando está escuro, quando está frio, quando está errado. Quando estou me afogando em lágrimas você é meu salva-vidas, quando estou querendo fugir você me encontra. Você não desliga o telefone. Você lê os textos. Você me faz bem. Você é uma das poucas pessoas que ganham um texto de uma amiga.

Quero que saiba que foi o primeiro para quem escrevi algo.

Eu sei que existem outros, mas eu quero você. Sei que existem outros inteligentes, mas quero a sua sabedoria. Sei que existem outros ingredientes, mas eu quero o seu sabor. Sei que existem outros engraçados, mas quero a sua graça. Sei que existem outras manias, mas quero as do seu corpo. Sei que existem outros charmes, mas quero o seu péssimo jeito de conquistador. Sei que existem outras roupas, mas quero o seu guarda-roupa. Sei que existem outras bocas, mas quero a que abriga os seus dentes. Sei que existe outros sorrisos, mas quero o do seu tamanho e forma exata. Sei que exitem outros carros, mas quero aquele banco; no qual quando me sentei, senti que me pertencesse. Sei que há outros do mesmo campo, mas quero o seu amor pelo que faz. Sei que existem outras vozes, mas quero do seu tom. Não quero olhos azuis ou verdes, quero os seus castanhos. Não quero 1,90 e o musculoso que todas procuram, quero a sua medida perfeita e as suas perfeitas costas que sempre me agradaram mas me conquistaram definitivamente quando foram enfatizadas por aquela sua blusa verde clara. Não quero o mesmo padrão que toda mulher cria, quero exata e inteiramente você. Não quero só o doce, quero sua acidez também. Quero seus momentos de alegria e fúria. Quero lhe abraçar quando estiver com um sorriso e quando estiver sério, quando precisar de incentivo e quando precisar de calma. Quero que enxergue como meus olhos brilham quando conseguem te roubar uma risada, mesmo não sendo eu. Não quero ouvir seus planos, sei de quase todos; quero que me conte suas histórias, ouviria cada uma com o maior cuidado e analisando cada palavra, acompanhando seus sentimentos ao passar do enredo. O único lençol que quero desdobrar ao ir deitar é aquele que tiver o seu cheiro, a única cópia de chave do meu apartamento seria sua, e um dos meus maiores desejos, agora, é te entregar este texto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mas eu só quero que você saiba...

Eu queria ser capaz de transformar todos os seus medos em motivações; fazer você acreditar naquilo que pensa ser impossível, estar ao seu lado provando ser a pessoa certa que você sempre esperou. Queria desprender você de todas as inseguranças, e fazer você acreditar no impossível. Queria ser a razão de uma mudança sua, de uma transformação de ideias sobre o que é a vida, sobretudo o amor. Eu sei que sou capaz, sei que meu potencial é válido para você. Sei perfeitamente que não somos perfeitos, mas nos completamos. Pode parecer clichê, alguns dizem isso sem saber o valor das palavras, mas você tem que saber que eu uso as palavras com consciência de cada uma, de cada vírgula. Tem que saber que eu não apenas conheço, como entendo, perfeitamente, os motivos, as circunstâncias que impedem estarmos juntos. Tem que saber e compreender que, mesmo sabendo que cada plano meu não tem fundamento nem base, continuo planejando e de certa forma esperando. Preciso somente que você saiba que nenhuma palavra foi ao vento, nenhum ato foi vazio de significado. Foi tudo intenso porque eu me entreguei a essa intensidade. Seja positivo ou negativo o que me virá de consequência, eu me rendi às emoções, e isso me conforta. Apenas me incomoda pensar que você pode não ter entendido o porque de tudo... ria ou aceite, mas saiba, por favor: foi por amor. E se você ainda não acreditar no amor, pense no mínimo que foi por uma grande consideração, um carinho profundo e uma elevada afeição. E pense também sobre aquilo que eu disse sobre ainda creer e querer mudar sua visão sobre o amor, te fazer acreditar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ao dono do palco.

Me desculpe, meu mágico, mas vou me deitar. Depois repenso sobre meus textos e sobre a possibilidade de lhe entregá-los. Que difícil é! Só uma coisa, então: Ah, meu mágico, como não antes adivinhou? E olhe que para isso não se exige nada de suas qualidades profissionais; a verdade estava estampada, todos e qualquer um conseguia captar. Eu tentava disfarçar, e ainda assim me diziam que eu falhava, era inútil. Como justo você não sabia? Me diz, meu mágico, te assustei e por isso a mentira? Ah, meu mágico, há de eu ter que confessar tudo? Jura não saber? Transforme então isso tudo em um conto, por favor. Aí, te conto tudo. Depois, voltamos para a realidade, as regras e a distância. Eu volto para a música e você para as cartas. E, por fim, eu me afasto, mas você continua cercado de carinho, aplausos e méritos por seu espetáculo. Palmas, meu senhor! Fizeste uma mágica: eu realmente me apaixonei por você. Voltarei para a minha cama agora, pode você voltar para suas amantes.

Um carma, talvez.

Um dia completo. Um olhar profundo, um cheiro a perfumar uma visão acompanhada de trilha sonora. Uma blusa de uma cor não surpreendente: azul.
Um toque no ombro, nas costas, no joelho. Um vácuo, um túnel, uma luz. Uma viagem recheada, uma vontade atiçada, um arranjo de sentimentos atacados; enfatizando a ansiedade junto com a incerteza e o desejo.
Duas mãos e uma mulher-problema em busca de atenção provocando um ciúme incontrolável e dois olhos molhados.
O talvez já não bastava. A dúvida corroía cada vez mais vigorosamente. As sensações já não pediam licença antes de se instalarem, íam todas se enfiando cada vez mais profundamente sem quererem saber se havia limite. A necessidade de um ponto final e de atirar de uma vez por todas naquela dúvida ardentemente venenosa, era cada vez mais forte e sólida.
Um conselho, uma conversa, uma decisão. Impulsividade, talvez. Falta de muitas coisas, talvez; como de precaução, sabedoria até.
Uma noite sem informação sobre o quão estrelado estava o céu. Um vento de bom humor, favorecendo um pouco a situação. Pessoas que poderiam sumir naquele momento, toques de telefone que poderiam não terem acontecido.
Um olhar, umas quatro palavras e uma testa de interrogação. Um rastro de dúvidas, um coração acelerado, uma sensação de que o chão era somente um tapete que estava sendo puxado.
Uma possível resposta, uma esperança conformista, um olhar compreensivo, uma resposta negativa.
No princípio, não foi um choque. Depois, só o edredom pode dizer o quanto de lágrimas foram derramadas. A dor se espalhava do sistema límbico à cada órgão, glóbulo, derme e anexos de todo o corpo. Não se reconhecia mais o equilíbrio, nem a razão, a tranquilidade e o claro.
Um passar de dois dias sofridos. Uma madrugada, uma caneta roxa, um pequeno caderno, um CD no rádio e dois olhos liquidamente fixos. Um medo com várias ramificações. E, ainda assim, o mesmo sonho de antes: o mesmo abraço, o mesmo beijo nunca provado mas único esperado, a mesma necessidade de absorção de calor e da própria pessoa por inteira.
Novas dúvidas andando lado a lado com os mesmos sentimentos obscuros.
Uma memória, uma lembrança, uma visão, um nome, um corpo, um abismo.

É possível deixar?

É possível esquecer alguém por obrigação? Há, realmente, alguma forma de mudar seus conceitos sobre alguma pessoa, devido a uma palavra dela? Ou estaríamos apenas perdendo tempo na tentativa de procurar outros braços, outros lábios, outros vícios e outras manias? É fraqueza não conseguir deixar de considerar alguém após saber que o mesmo não te considera na mesma intensidade? Nem no mesmo nível, ao menos? É saudável escrever sobre tantas perguntas? Ou seria melhor calá-las e guardar o papel?

Escrevendo e expulsando.

Encharcava seus sentimentos no papel enquanto tentava escrever sobre o que lhe atormentava. Era o maior refúgio, as palavras. Quando não há luz nem sanidade, resta tentar desembaralhar tantas ideias e expressá-las; assim, sai alguma coisa. Sai a dor em forma de letras, mas sai; sai dilaceradamente, mas sai. Expulsava a dor, mesmo que junto a lágrimas, ao pegar uma caneta e abrir o caderno. Desufocava-se na tentativa de descrever o quanto estava machucada.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pior é.

Eu pensei que estava pronta, que eu fosse mais forte. Eu acreditava fielmente em que um não conclusivo doesse menos do que a incerteza. Agora, depois de ter me arriscado, vejo a partir da dor que me enganei. Talvez o conformismo não seria a pior escolha. Pior é ver todas as suas esperanças serem despedaçadas. Pior é pensar que tudo o que você viveu foi uma mentira. Pior é não ter mais razões para acreditar. Pior é essa sensação de que lhe falta chão, essa sensação de dor flutuante. Pior é essa dificuldade para respirar, a vontade constante de chorar e a fraqueza para liberar as lágrimas. Pior é essa imagem da pessoa que você mais ama, se importa e te machuca, não sair da sua memória. Pior é fechar os olhos e lembrar; pior é fechar os olhos com mais força e continuar a lembrar; pior é entrar em desespero, tentar forçar qualquer outra lembrança, das mais banais para as mais válidas, só para afastar aquela imagem, e ela continuar a aparecer. Pior é não conseguir parar de tremer, não conseguir mudar de expressão facial, demonstrando assim sua fraqueza para todos, deixando transparecer tudo que te incomoda, arrasa e rasga cada parte de dentro de você, até as mais profundas, através dessa incapacidade de forçar, sequer fingir, um sorriso. Pior é não conseguir aumentar o tom de voz, não querer sair da cama, pois não há forças nem para isso. Pior ainda, é não saber se você devia mesmo ter deixado a sua impulsividade te dominar. Pior é o pensamento insistente de: "Perdi o controle? Fui longe demais? É melhor assim?" E pior é aquela maldita esperança de ainda poder dar certo; aquela voz dentro de você que não se cansa de lhe informar sobre possibilidades e fazer você acreditar em ilusões - mais uma vez. Pior é, depois de ouvir um não, acreditar que agora, depois da descoberta, pode-se abrir um caminho para um futuro sim. Pior é ter arriscado tão perigosamente para acabar com uma dúvida sofredora, e essa dúvida não morrer, continuar ali. Em coma.