sexta-feira, 15 de novembro de 2013

inspirado em bukowski Pt. 2

é só mais um dia
de mais um mês
de tantos anos
ordinários
e marcelo continua
indignado

um mês para o natal
e todas as luzes
e cheiros
e quem sabe um reencontro
e quem sabe um beijo

eu gosto
das luzes e dos cheiros
do final e do recomeço
e quem melhor que um ano novo
para nos dar
essa oportunidade?

é meio banal, mas
encantador

e se tiver que acontecer,
o sexo acontecerá
e as noites serão regadas
de cervejas e ruídos
e se não tiver que acontecer,
posso até me machucar
mas as noites serão finalizadas
com cervejas e poemas

inspirado em bukowski Pt. 1

muitos poemas
do mesmo autor e
cervejas
nas noites de quarta
e nas tardes quentes
de quinta

inspirada
quando ele fala
das putas
e de querer uma
mulher boa
e não saber
se eu sou boa
ou se a puta de lá
é a boa
e não puta

nem querendo entrar
nesse assunto velho
já engavetado
já selado
só querendo escrever
um poema
no estilo bukowski
enquanto vejo marcelo
indignado
sobre o pesadelo de darwin
e o fato de
ninguém da sala ter assistido

e, surpreendentemente,
fala sobre o capitão
e, surpreendentemente,
não me machuca

e olha que
o amor
é um cão dos diabos

domingo, 10 de novembro de 2013

Conto [9]

- Conheci uma banda nova, ele canta com emoção.
 - Mais que Johnny Cash e Bob Dylan, na sua música preferida?
- Mas você ainda pergunta uma coisa dessas. Quando que alguma música vai ter mais emoção que aquela? Porém, o cara canta umas verdades. E umas coisas meio depressivas, também. Para uma pessoa normal, pode parecer clichê. Mas não sou uma pessoa normal agora e não sinto isso, sinto como se ele escrevesse com todo o coração, para uma pessoa que o machucou muito. Talvez eu esteja mais emocionada com a música por estar machucada também.
- Isso está errado.
- Eu estar machucada? Ah, obr...
 - Não, você dizer que não é uma pessoa normal agora.
 - Bela ênfase no agora. Eu sei que nunca fui normal. Mas se já sou estranha "normalmente", como posso me definir apaixonada ou machucada?
- Continua falando da música.
- A música fala de emoção e...
- E a parte das verdades?
- Ah, é, ela te faz pensar umas coisas bem tapa na cara, sabe?
 - Qual trecho?
- How can you love someone and not yourself?
- Se eu fosse sua melhor amiga, você teria que traduzir.
 - Mas você não é, então não muda de assunto.
 - Eu preciso mudar de assunto. Porque se você não muda e se ninguém fizer isso por você...
 - Han? O que vai acontecer?
- Você vai continuar presa nesse assunto e ouvindo esse tipo de música e conhecendo essas bandas que sabe que eu não sou muito fã, sou mais do metal.
 - Cala a boca, que você chora com Blues.
 - Quer batata?
- Não, quero emoção.
- Isso é fácil.
 - Mas dói.
 - É só saber selecionar os tipos de emoção que procura. Me passa a pimenta.
 - Não posso estar tão errada por ter me apaixonado. Todo mundo gosta. São sensações gostosas no começo... mas, porra, como faz mal, né? É como uma bela bebedeira, no começo você se sente incrível e não sente nada: não sente às vezes nem toques ou surras, sente mais profundamente uma música, sente mais a energia, as pessoas, o ar carregado de amor, amizade, instrumentos. Sente graça em tudo, vê beleza em tudo, vê tudo com mais intensidade, cores, sentido. Mas depois que acaba e você volta pra merda da vida normal sem estimulantes, a primeira coisa que faz ao abrir os olhos é se sentir um lixo. Sentir-se o oposto de todo aquele incrível: sentir dor de cabeça, ânsia, dor em tudo, na cabeça, no corpo; ressaca moral, ressaca física...
 - Você não tava falando da música?
- Porra, se você continuar falan...
 - Ok. Vamos para essa sua comparação bizarra de paixão com bebedeira. Deixa eu dar o último gole deste copo.
(Silêncio)
Depois de abrir os olhos você levanta da cama, ou do sofá ou do chão ou da privada ou de sei lá onde você dormiu na noite anterior, e vai se hidratar: bebe água, bebe suco, bebe coca. Come alguma coisa, come coisas salgadas, come doce. Deita e espera um pouco. No final da noite tá até ligando para as amigas pensando em qual vai ser o próximo rolê...
 - Mas na paixão não é assim.
- Caralho, você estava comparando as duas coisas até agora! Você só não quer enxergar.
- Então me dá uma porra de um saleiro pra eu curar essa dor. Me dá alguma merda que me faça tão bem quanto litros de água... me dá alguma garantia de que eu vou parar de me sentir mal até o final da noite. Porque eu não penso em nada e...
- E sua teoria falhou.
- Quê?
 - Essa coisa estranha de comparar bebedeira com amor. Você acabou de perceber que é uma idiota sofrendo por um cara e tentando achar explicações simplistas em coisas desconexas, só para ter alguma coisa em que pensar.
- E o que eu faço?
 - Me fala mais da música.
- Ela pergunta sobre quem vai fazer a pessoa amada se sentir melhor, quem vai ser o que, na verdade, o eu lírico sempre quis ser.
 - Bacana.
 - E isso dói pra caralho porque, no meu caso, eu sei quem é. Eu descobri na quinta que quem vai cuidar dele está em São Paulo. Já está cuidando, já o está amando.
- Você ia nas aulas de geografia, né?
 (Silêncio)
Sabe que São Paulo é grande, né? E tá ligada que tem mais uns par de estados por aí neste nosso pequenino país.
- Ok, eu sei que tem milhões e milhões de pessoas pelas ruas e no trânsito e nos bares e lanchonetes e cruzando todo dia nossos caminhos... mas a gente nunca os conhece de verdade. E quando conhece, se você se atreve a se apaixonar, cai nessa merda.
 - Não tá dando. Você está muito na fase: não vou aceitar, ele é o único pra mim e toda essa merda que tentam te enfiar, todos os dias, na sua cabeça através de TV, de revistas, de casamentos falsos, de relacionamentos mascarados, de status conjugal e... de músicas.
(Barulho de cerveja sendo despejada no copo)
Olha aí, chorando com a voz do cabeludo.
- É. E eu quero mesmo passar pra próxima fase, mas tá tão difícil...
- Então ouve mais a música e aproveita esse período. Mas não queira respostas agora, ou conselhos que te dê uma luz no final do túnel: aceite que você quer agir como está agindo, que quer se lamentar ainda por não ter sido a tal e todas essas coisas. Aceita que quer e precisa desse tempo de dor. E só quando estiver realmente preparada para aceitar as verdades e pensar em como agir daqui pra frente pra aliviar toda essa coisa ruim dentro de você, peça algum conselho.
- Que diabos! Eu nem pedi conselho, tá se achando o sabichão.
- E o que você quer, então?
 - Falar da música.
- Então fale da música...

Desintoxicação

Eu precisava desintoxicar-me de você. E pra isso foram precisas as tais atitudes "infantis". Excluir você de tudo que me circula, do meu espaço, dos meus meios, do meu social,do meu corpo, até que seja excluído da minha mente, das minhas lembranças. Dói demais ouvir de uma pessoa pela qual você está apaixonada que outra a desperta sentimentos. É como um tapa na cara seguido de "você não foi suficiente". É pra baixar a auto-estima, é pra chorar no meio da festa mesmo, sem se importar ou perceber com quem está a sua volta. É um tapa necessário para seguir em frente, mas que dói demais. Dói mais ainda porque seus sentimentos se confundem: é um misto de felicidade pela pessoa que você ama estar se sentindo bem e isso estar visível nela, feliz pelo bem que a está causando, e uma triste profunda de um: por que eu não consegui isso? É uma brecha pra ouvir todas as músicas melosas, desde as mais recentes, como Adele, até as do começo da sua adolescência, como Taylor Swift. De Comfortably Numb até What's Hurt The Most. E pra tentar fechar a ferida, você precisa se afastar. Você nunca consegue superar alguém mantendo contato com a pessoa. Ou simplesmente acompanhando a vida dela; o que faz, com quem trepa, onde frequenta, o que sente. Nada disso pode mais fazer importância. Nem o fato de a pessoa passar reto por você no campus. Você tem é que agir igual: a partir de agora, você também vai fingir que não conhece; e não é por vingança não, nem por algum tipo de necessidade de "dar uma lição" na pessoa: é simplesmente porque passar perto dói. Um oi é uma bomba jogada no peito, um não oi é duas bombas seguidas. Esse é mais um texto clichê, que provavelmente várias meninas (e meninos) escrevem quando partem seu coração, ainda mais os jovens, os adolescentes, eu sei que estou escrevendo como se tivesse 15 anos e esse fosse meu primeiro dram-a-mor. Mas é um jeito de marcar um final, eu tenho essa necessidade, esse blog acumulado de textos sobre amores e desamores e ilusões e desabafos sabe disso. Sabe que eu preciso digitar e guardar o que acontece aqui dentro. É como se fosse o primeiro passo para me desintoxicar. Desintoxicar. Tirar essa paixão que sufoca, esse gás de amor, essas profundas substâncias tóxicas viciantes, todo esse lixo dentro do meu corpo que me faz sentir mal, me faz sentir fraca, me faz chorar, me faz querer me intoxicar mais ainda. Desintoxicar de todas as pílulas de esperança, os tragos de sonhos, as ressacas de riscos, as primeiras vezes, o primeiro tudo, o incrível e simples e puro primeiro caso - de certa forma - correspondido.