quarta-feira, 27 de junho de 2012

Chorei

Então eu chorei. Chorei porque o dia estava perfeito para acolher minhas lágrimas: sem compromissos marcados, sem ninguém por perto, clima adequado, afins. Chorei porque comecei a ler um texto da Tati Bernardi e ela sempre consegue me tocar no mais íntimo, me fazer chorar de tanta identificação. Chorei talvez até porque eu já estava guardando esse choro há algum tempo, mas nunca tinha tempo de chorar. A gente cresce e cada dia fica mais difícil, ficamos cada dia mais presos a uma rotina que a sociedade nos impõe e ficamos sem tempo: até mesmo de chorar. Sem tempo de tentar entender o que estamos fazendo aqui, nos deixando esses questionamentos na maioria das vezes para quando tomamos banho, antes de dormir ou bêbados - mas esses intervalos de tempo são muito curtos e não sinto como se valessem a pena. A questão é que chorei porque me vi completamente sozinha, em um apartamento em outra cidade, quilômetros de distância dos meus pais e das bondades deles. Chorei porque tenho medo, muito medo, só de pensar no que vai ser da minha vida um dia sem eles. Chorei porque estou crescendo e cada dia que passa estamos um dia mais próximos da morte. Chorei porque eu amo tanto os meus pais, sinto tanta saudade deles, diariamente, mas não consigo demonstrar nem metade desse sentimento ENORME que é despejado em mim quando converso com eles. Chorei porque não sou a filha que eles merecem. Sei que os amo com TODA a minha força e mais que tudo no universo, porém minha personalidade é forte demais e eu acabo não sendo aquela filha que eles merecem: e por isso eu chorei. Chorei porque, falando em família, minha irmã está longe e eu sinto saudades dela também, abri uma foto nossa quando crianças aqui no computador e chorei de felicidade por ela existir, por eu ter uma irmã, por nós sermos dois pedaços de nossos pais que se completam e por isso significar tanto para mim. Chorei porque voltei a encarar este apartamento e mais uma vez me vi sozinha. Chorei porque sei que daqui a pouco minha companheira de república chega mas ainda me sentiria em um vazio, o que significa que não se trata apenas de alguém estar aqui ou não, mas sim de eu sentir falta de algum outro tipo de preenchimento. E se ela não chegar hoje, vou dormir com medo da solidão, e se eu passar a noite sem companhia, vou chorar pela solidão. Chorei porque eu choro com essas coisas mais artísticas, mais lunáticas, chorei porque sou lunática. E eu começo a me questionar sobre quem eu sou. E quando faço esses questionamentos, me pergunto se estou no lugar certo - e indo atrás de um futuro certo. Chorei porque eu amo o futuro que planejo enquanto curso o meu curso de faculdade, mas penso se eu não faria serviço melhor para outra coisa. Chorei porque não sei se consigo me adequar a um perfil cientista e frio. Sou mais pra escritora chorona, que chora lendo e escrevendo textos. Artista que se entorpece com músicas. Lutadora pela sociedade, que sai na rua com cartazes. Apaixonada por crianças, que brincava com a lousinha quando pequena e, mesmo depois de crescida, no colegial fazia questão de ensinar a matéria da prova para as amigas em cima do tablado. Chorei porque não sei o que vai ser de mim, às vezes não sei nem se eu sei quem eu sou. Chorei porque não sei mais no que acreditar. Chorei porque quanto mais me envolvo com a política deste país, mais pego nojo da nossa realidade. Chorei porque, em um momento, senti que este chão é vazio demais para um universo gigantesco demais e tão fascinante e tão indecifrável para sempre. Chorei porque lembrei do medo de não existir absolutamente na-da depois de nossa existência. Chorei porque nem ao menos eu tenho alguém por quem eu esteja apaixonada e possa me tirar desses pensamentos. Pois é preferível chorar porque alguém não me olha ou não respondeu minha mensagem, ficar pensando no sorriso de fulano, escutando música e sentindo coisinhas, sejam boas, ou tristes, pois não chegam a tamanho desespero de dor como quando pensamos nestes níveis de questionamentos. Chorei porque não tenho ninguém para gostar e me abraçar e me fazer rir de coisas bobas e me fazer esquecer desses questionamentos. E eu não sei nem se eu quero isso. Na maioria das vezes, eu não quero. Mas nestas horas, eu queria muito alguém para estar aqui do meu lado, dividindo a coberta comigo e me entendendo com esses pensamentos. Mas que me entendesse de verdade. Alguém que gostasse de mim pelo o que eu realmente sou. Que admirasse a minha loucura. Com o qual eu não precisaria "me comportar". Chorei porque eu queria dar a minha irmã a graça de ter um cunhado, e ela não precisaria mais me cobrar isso. Chorei porque ela e minha mãe dizem que se eu fosse diferente, mais delicada e menos escandalosa, eu daria certo com algum cara. Mas eu não consigo ser diferente do meu diferente, pois eu sou diferente: eu não sou normal. Choro porque não sei até que ponto isso é bom para mim. Choro porque eu sou assim... de chorar. E choro porque estou crescendo dez anos a cada dia enquanto vivo esta minha nova vida, fora de casa, com pessoas novas e com uma certa independência: e não é fácil. Choro porque crescer é difícil, crescer é triste. Choro porque é informação demais, amadurecimento demais, sentimentos demais... e a cada dia, são 30 vezes mais intensidade e... tempo a menos. Um dia a mais... perdido da sua vida. Rasgado. One day closer to death. E ainda não sabemos o que estamos fazendo aqui. E ainda não sabemos valorizar todos os nossos dias e todas as pessoas. E ainda não encontrei alguém que conseguisse gostar de mim por completo pelo o que eu realmente sou e ainda não sei se quero isso.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Listinha

Pergunto a este mundo: por quê? Primeiro, um filme com o protagonista parecidíssimo com você. Depois, na troca de canal, me deparo com um show do seu cantor preferido. Pra que fazer isto comigo, mundo? Assim fica inviável tirá-lo da minha cabeça. - Esquecer que agora ele tem, oficialmente, outra em seus braços, junto ao seu corpo, compartilhando seus lábios. - Dissolver qualquer e todo tipo de esperança e vontade de nós; assim, em plural, e de forma singular. - E o resto da listinha de "coisas para se fazer agora". Com Eric Clapton na TV e seu rosto na minha mente, só me resta render-me a essa sensação de choque, enfiar-me na melancolia. Sei que é passageiro - só espero que não demore muito para esses sentimentos passarem. Passarem do hoje para o ontem, do meu presente para "engavetado no passado". Sei que passa, mas essa transição é cansativa. Esperar superar é exaustivo. E enquanto esse processo não se dá por concluído, me rendo a lamentar. Lamentar por nós. Sinto muito por este ser um ponto definitivo, eu botava fé que daria certo, funcionaria, "quem sabe um dia". Mas é ilusão, hoje decreto greve permanente de você, me proibo te querer, deixo os sentimentos passarem para que já, já eu possa conseguir te desejar, sinceramente, felicidades e torcer pelos seus relacionamentos. Enquanto isso, é hipocrisia eu falar que desejo coisas boas. É feio, mas não tem como eu me enganar. No fundo, desejo que você veja que ela não te faz feliz. Talvez quem queira isso seja aquela mulher dentro de mim que ainda te quer, então deseja que você nos compare e continue pensando em mim... mas juro que sei que é passageiro, e não vou deixar outros saberem desse sentimento cruel. Muito menos você. E vou seguir com a listinha, deletando você de mim. "Tudo bem se não deu certo, eu achei que nós chegamos tão perto, mas agora, com certeza, eu enxergo que no fim eu amei por nós dois..." E aquele velho ritual: deletar número, músicas, emoções. Adeus Bell Botton Blues, "I don't wanna fade away!"