sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sobre ele, para vó.

Não sei, vó. Só que eu tenho quase certeza de que não será um cara-padrão. Sabe, daqueles arrumadinhos, que você já esperava. Tipo os das primas. De topete e roupa de marca, de barba raspada e relógio caro. Tá, sem barba até pode ser, embora bem improvável... Vó, ele vai falar com você sobre Cartola, vai tocar Milton nos almoços, vai colocar pra tocar no carro aquele tipo de música que você fala que é "barulhenta", disso eu tenho quase certeza. Ele vai ser uma boa pessoa. Vai te ouvir com o coração e sorrir de verdade, disso eu tenho certeza. Vai ouvir suas histórias com o mesmo brilho no olhar que eu tenho, quando as ouço. Com aquelas palavras soltas: "que incrível", "queria ter vivido nessa época" etc. As mesmas que eu solto. Eu ainda não o encontrei, vó. Na verdade, já encontrei alguns, mas nenhum grudou em mim, nenhum me fez acreditar num futuro bonito, nenhum me fez imaginar um quadro de nossas fotos em preto e branco no quarto de nossos netos, assim como os meus quadros da senhora e do vô na minha parede. Mas quando esse homem chegar, saberei se vale a pena se eu te apresentar. Te prometo, vó, só lhe apresentarei quem vale a pena. E ainda tenho certeza de que você vai adorá-lo e torcer por nós. E é assim que vou saber que ele é "o certo". Quando eu sentir que "é ele", vai ter mais um lugar no almoço na sua casa. Você sabe, vó, eu sou da moda antiga e, por mais liberal que eu seja, ou 'diferente' como a família vê, a senhora sabe como tenho um lado conservador para certas coisas, como valorizo certas coisas além da medida moderna.