sábado, 30 de março de 2013

Trocar o inútil pelo necessário

Eu queria estar fazendo outras coisas, as minhas coisas. Eu tinha que estar fazendo essas coisas. As datas estão marcadas e eu tenho que fazer mil coisas, mas como continuar essas coisas quando se tem uma sacada da sua cidade te chamando para observar o céu e o movimento e sentir o cheiro daquele lugar e fazer com que você se sinta em casa? Uma sacada que te convoca pra pensar - e até sofrer. A música continua tocando e A-ha energiza a sua casa, te fazendo lembrar de beijos, vontades, desejos. Não dá para se focar num raciocínio de um autor que você precisa entender - para a sua prova daqui um mês e para sua formação profissional - quando se tem as fotografias mentais das pernas entrelaçadas sob um edredom com cheiro e um tipo de descarga saindo do seu corpo querendo te impulsar para o toque mais sensível e profundo que você já recebeu. É difícil permanecer no padrão e seguir as regras, as únicas condições que você tem que, realmente, seguir, quando tudo que você pensa que quer é largar tudo e transar ouvindo Led Zeppelin. Chega de vinhos, poemas do velho safado, solos orgásticos de grandes guitarristas e lembranças de uma noite de verão qualquer, chega de querer reviver tudo ainda com mais intensidade, chega de querer doar seu corpo e sua intimidade. Vamos trocar esses instintos sacanas para referências bibliográficas e artigos científicos. Pelo menos, é isso que deveria acontecer. Enquanto tento, espero que funcione até a data da viagem na qual nos encontraremos, pois se nada adiantar, além de DP, vou pegar você e uma grande recaída, com direito a ataque e despir suas roupas e máscaras.

sábado, 23 de março de 2013

Recaída

O que você faria, se descobrisse que falo de você para minha mãe? Por esse motivo, já é possível perceber o quão mais importante é para alguém algum tipo de relacionamento. Dificilmente você vai comentar para a sua mãe sobre alguém pela qual você não se importa de verdade. Pedir conselhos e toda essa coisa boba. Ela sabe seu apelido. E ela me diz para eu não ficar triste. Dizem-me também, para não ficar triste, minhas amigas, irmã e algumas músicas. Mas eu troco de disco, ouço 50 receitas do Leoni e Enquanto Ela Não Chegar do Frejat, enquanto leio textos e livros do seu autor preferido. Dá uma pequena, delicada e sutil tristeza, uma pontinha de angústia, na felicidade no começo da leitura de coisas que te fascinam, uma vontade de te ver, uma saudade, sabe? Até que chegar no último parágrafo; de repente, um aperto enorme abraça o meu peito. Não quero nem pensar por quê tudo isso. Desisti de tentar entender como eu posso não gostar de nada em você e ao mesmo tempo possuir sintomas de alguém que gosta - e muito. De tentar te esquecer, pois mesmo que consiga por um mês ou mais, na distância, não pensar/falar/sentir; quando te vejo novamente, caio dessa forma tão patética. Desisti também de tentar entender o seu lado, o que para você tudo isso significa. Embora eu acredite que, na verdade, não significa nada. Mais uma paixão alimentada por mim, sustentada por mim e sofrida apenas por mim. Mais um dia lendo Bukowski sozinha, ao som de uma das bandas estampadas na sua camiseta. Mais um dia perdido, que eu poderia - e tinha que - estar fazendo outra coisa bem mais importante, mas abri mão para tocar a playlist mais fria e triste criada por uma pessoa apaixonada. Vou finalizar com um texto do velho, depois, ver se consigo tentar me distrair ou abrir mais um livro, mais uma cerveja, mais uma ferida.
"quero que ela saiba entretanto que todas as noites dormindo ao seu lado mesmo as discussões inúteis foram coisas realmente esplêndidas e as palavras difíceis que sempre tive medo de dizer agora podem ser ditas: eu te amo."

sexta-feira, 15 de março de 2013

Negativismo cansativo

Gosto de ver que existem pessoas que pensam em coisas boas e relatam sempre coisas boas, positivas. Que pegam o simples e transformam em incrível, que pegam o bom e levam consigo. Já basta a crueldade que existe no mundo, acho muito chato conversar com pessoas que só sabem falar de problemas e que a vida é ruim e que isso e aquilo... Acho mais chato ainda quando a pessoa não tem motivos para reclamar. Acho chato também quando, mesmo que não reclamem, pessoas neutras que também não se dão o prazer de serem e ficarem felizes. Mas o pior mesmo é o negativismo. Tenho canseira de pessoas que vem querer me dar lição de moral falando o quão injusto é o mundo e como elas estão cansadas de tanta hipocrisia. Como se eu não soubesse e não me revoltasse também. Já chorei muito por saber da crueldade existente "lá fora". (Porque, aqui dentro, só guardo amor.) Já chorei por crianças, idosos, vítimas de preconceitos, catástrofes ambientais, egoísmo, capitalismo selvagem, já chorei por "essa terra de gigantes que trocam vidas por diamantes". Mas sempre acabo com mais esperança e querendo lutar. ´Pelo menos, espalhar amor. Não aguento mais pessoas chatas, céticas, sem cor, sem brilho, sem graça. A vida é muito curta pra toda essa chatice! E sinto minha vida "encurtada" sempre que perco tempo conversando com pessoas assim.

A vida é muito curta

As pessoas sempre acharam estranho eu acordar (quase) sempre de bom humor, sempre sorrindo e até mesmo nas "segundas-feiras detestáveis". Um dia, soltei um: "cheira o dia!" e pensaram que eu estava apaixonada, que eu estava gostando de alguém, que tinha algum motivo ali... mas, na verdade, era um simples dia comum. Atrasei para pegar o ônibus para a faculdade, então fiquei lá, parada no ponto, ouvindo música. E o dia estava muito bonito... um vento muito gostoso, uma tonalidade do céu combinando com quantidades de nuvens,um sentimento bem predominando, uma temperatura aprazível... várias coisinhas pequenas que me fizeram sentir um bem estar incrível. Ninguém acreditou neste motivo da minha felicidade... Eu estava tão feliz por estar viva e vendo e vivendo tudo aquilo.. feliz pelo simples motivo de não ter motivo para estar triste! Por poder desfrutar de um dia delicioso, por poder sentir os ventos batendo no meu rosto e nos meus cabelos, por eles parecerem dançar com o ritmo da música que eu ouvia; por poder sentir o cheiro do dia: uma coisa tão abstrata mas tão rara, coisa que a gente perde com tanta frequência e cada perda é irreversível: não terá outro dia. E se a vida for, realmente, uma só? É deprimente só de pensar. Isso tudo aqui é uma passagem e é muito rápido! Imagina quantos dias você perdeu... quantas sensações simples que só este mundo pode proporcionar você deixou de sentir? Quantos sentimentos prazerosos deixamos de nos deleitar pelo simples, medíocre e concretizado fato que levamos embutido conosco de não nos permitir? Por que é tão difícil para as pessoas (até para aquelas que não tem nenhum problema/chateação, o que me deixa até mais surpresa) ficarem feliz por... simplesmente estarem vivas? Por coisas simples? Depois desse dia, uma das minhas maiores frases, até hoje, é: a vida é muito curta para não cheirar o dia! Principalmente a chuva, a grama, o quarto, o amigo etc... a vida é muito curta para esperar motivos para se sentir bem, se sentir feliz.

psenu

Ouço "When she was just a girl she expected the world, but it flew away from her reach, so she ran away in her sleep, and dreamed of para-para-paradise..." e relembro de quando eu era "Just a small town girl, livin' in a lonely world", lembro do meu mundo, por um certo período de tempo, vazio e triste, na esperança de se concentrar de amor e vivência, experiência, cor, na chegada em uma cidade. Para mim, é nítida a lembrança do ônibus entrando naquela cidade e eu sentindo, de uma forma verdadeiramente estranha, como se ali fosse o meu lugar. Eram tantas expectativas, tantos sonhos para este mundo e tanta vontade de viver além do que o mesmo podia me proporcionar: vivendo através de amigos, mudanças e risos, conhecimento, luta e brilho. Entre algumas paredes, me senti como em um quarto bem íntimo: senti uma aceleração no coração e um ritmo dançante dos batimentos cardíacos que dá saudade de lembrar e volto a sentir aqui, agora, escrevendo sobre essas sensações. Senti como se todo meu esforço por um futuro estivesse valendo a pena e senti o mais importante: que era ali que eu queria ficar, em nenhum outro lugar, nem na cidade grande, nem na "segunda opção". Queria correr pra casa, encapotar minhas coisas e deixar todas as malas no canto da cama, nem se fosse para esperar por um ano para a próxima oportunidade, mas eu iria me mudar, eu iria para a minha primeira opção. Era uma vontade desde três anos que eu tinha, claro, que não da mesma intensidade, cada vez que vinha me aproximando mais desse futuro, crescia. Foi preciso, então, que me dizessem que eu poderia estar idolatrando, imaginando mais do que é, colocando em um patamar sem ao menos conhecer e estaria correndo o risco de me decepcionar: foi quando eu peguei o tal ônibus. Quando a "small town girl, living in a lonely world, took the midnight train going' anywhere": mas só não era meia-noite e esse tal lugar era bem definido. Nada mais comprovou que era ali que meu corpo queria estar. Comecei a acreditar nessas tais histórias de destino. Sabe como é, quando as coisas acontecem de forma tão intensa na sua vida, você acaba parando para pensar: não é que faz um certo sentido? Por que diabos eu iria me identificar tanto com um lugar? Pior! Como eu iria ter a tamanha sorte/coincidência de encontrar um morador da cidade, futuro amigo, que me apresentasse para certos outros amigos? Tais, que só faziam a minha vontade de desempacotar as minhas coisas lá aumentar. Pessoas que eu dizia: são assim que eu quero conhecer! São essas que quero trocar conhecimento, momentos bêbados, aprendizado e levar pra vida, esse tipo de pessoas simples e intensas. Mas daí, a vida embaralha tudo: te vira do avesso, cospe em você, ri da tua cara, samba no seu peito e diz: tenta entender por que tudo isso está acontecendo, porque nenhuma resposta será dada. E você sofre, não pela sujeira sobreposta, pela risada irônica da vida, do peso no peito e da dor de cabeça, mas simplesmente pelo fato de não entender para qual lado você deveria ir. Então, aceita os sinais mais frequentes, aqueles que te dizem que o caminho é outro, a rota é diferente e seu endereço é bem distinto. Aceita, pois a vida te empurrou para esse lado, todas as circunstâncias. Mas dai você pensa: ela empurrou e eu aceitei. Não lutei contra, não fui forte, quis o mais fácil, por um instante. Será que não valia a pena desafiar essa braveza toda dessa vida irônica e gritar: "não aceito!"? Então, pensa de novo: será que isso tudo não é uma frustração babaca de quem não conseguiu achar, onde foi parar, o que procurava e pensava que acharia no antigo lugar predestinado? E repensa no que sua prima diz sobre espiritismo, destino e que quando se sente uma identificação extrema com algum lugar é porque você pertence ali. E reflete e sofre e pensa e debate e amarra a garganta e se sente envergonhado e inútil e volta a tocar músicas como Don't Stop Believing e Paradise. E tudo que pede, ao incenso e as energias positivas do universo, é uma resposta, um sinal, que seja, para que entenda, para que saiba se o que está tentando fazer neste lugar está valendo a pena e sendo significante ou se o seu lugar é alguns quilômetros deste. Que suas escolhas façam algum sentido antes que seja tarde demais; mesmo que se precise de luta, de suor, de coragem, de desafios. A vida é muito curta para se acomodar. E muito curta para escolhas e decisões erradas, equivocadas ou medrosas. Só não quero viver numa decisão errada, e carregar frutos de uma escolha equivocada, e perder sentimentos e histórias maravilhosas por medo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cartas para P.:

But I can't accept that we're estranged, without you... without you... Without you é tão mais difícil. Sei lá, mais sem graça. Acontece alguma coisa e eu quero contar pra você e não sei até quando vou conseguir seguir com esse joguinho de me afastar. Tenho um pensamento, alguma lampada acende aqui perto de mim como naqueles desenhos animados e instintivamente eu penso em correr compartilhar tal amadurecimento de ideia ou surgimento criativo com você! Mas daí lembro de uma certa parte minha que chora sabendo que você vai embora... embora perto de mim, mesmo dizendo que vai continuar fazendo parte da minha vida e nossas histórias serão compartilhadas. Eu penso: quem quero enganar? Serão realidades bem mais diferentes e uma distância que afastará muito. Uma distância besta, pois continuaremos bem perto, mas, comparado a um costume antigo, estaremos muito distantes. Minhas lágrimas de madrugada bem distante das suas palavras fortes. Minhas ânsias de ressaca longe dos seus cuidados e dos seus chás. Suas dúvidas sobre passado e futuro longe das minhas visões diferentes das suas, seja durante o arranjo de um almoço, seja com bom humor numa manhã produtiva ou na canseira exaustiva de um dia cheio e ainda seguido de uma reunião acadêmica. "I'm wierd cause I hate goodbyes". Eu vou ter que me acostumar com outra rotina e isso me afeta porque eu gostava de você na minha. Eu não vou ter mais você como anjo protetor colado em mim quase que 24 horas por dia, bem próximo disso, por quase todos os dias da semana, bem próximo disso. Eu não queria isso e vou sofrer com isso, vou ficar triste, por isso penso que é melhor ir cortando essa tristeza, evitar tamanha decepção que vou sentir quando olhar para o lado e ter que aceitar que não é mais pular da cama e dar alguns passos que vou poder te contatar. Então escrevo cartas como se estivesse te mandando um texto ou conversando ao vivo com vocês, mas na verdade essas palavras ficam guardadas. É muito fraco saber que nos apegamos tanto a uma pessoa, passamos a gostar tanto delas e considerá-las tanto? É muito fraco ter medo de não ser visto da mesma forma, de melhor amigo ser considero apenas amigo, muito egoísmo o medo da sua ausência não ser tão triste quanto a que a outra pessoa vai te causar? Prefiro, então, ir me acostumando a não contar tudo, a não querer compartilhar tudo, a começar a substituir esse primeiro lugar na amizade, no companheiro, nas cumplicidades, confidelidade. Porque sei que uma hora vai acabar assim, porque não quero sofrer tendo que encarar isso de forma tão repetina. Tenho que me acostumar, é uma atitude estranha mas "eu sou estranho porque eu odeio adeus".