segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Coisas.

Caipira, antiga, hippie, louca, brega, furacão, música, livros, doces, natureza, preto e branco, amores impossíveis, telefones com fio, máquinas de escrever, saltos fechados, roupas cós alta. Por favor, apenas 5 minutinhos, fique quieta se não ninguém consegue falar! Nunca tive algo que realmente fosse meu, exceto meus CDs. Chiclete, travesseiro, interpretação de textos. Sede e água, fome e fritura, medo e coberta. Pessoas e crianças, sorrisos e gritos, ecos, verdades soltas na inocência. Acreditar e ser o que acredita. Se render a cada pequena prova do dia-a-dia, não se acomodar, não deixar de moldar seu caráter. Coisas que acredito, coisas que sinto, coisas que procuro. Café da manhã só se com suco de laranja, música se a voz for sublime, crença só se sem fundamentalismo. Aprender a não criar expectativas mas não deixar de esperar. Esperar pelo melhor mas não necessariamente pelo sensato. Esperar em ação, agir com razão, racionalizar com emoção. Entender textos devido ao que te convém, ser egoísta mesmo e em certos momentos só pensar na sua situação e não na do escritor. Ler e se confortar, amar e ser amado, ou, no meu caso, apenas amar. Aceitar não poder ser amado por um leão, por um peixe ou por uma simetria.

domingo, 24 de outubro de 2010

Conceitos.

Uma vez que alguém assume ter um conceito, inevitável, direta e consequentemente, já assume achar que isso seja o certo. Se não, não faria sentido. Ninguém optaria por viver em uma mentira. Porém, quem já passou por experiências e amadureceu independente do porquê, entende que conceitos podem variar. Às vezes, se fortalecem e aprofundam, outrora, se perdem em diversas direções. Mas no meu modo de pensar, devemos pensar. E conhecer outros pensamentos, porém não julgá-los com razão ou não. A verdade absoluta é uma questão de fantasia, criada pela sede do homem de estar por cima em qualquer debate. Apenas há concordancias e discordancias. O seu modo de olhar uma árvore é diferente de outro e igual à muitos. Cabe a cada um só a busca pelo conhecimento, sem medo de pedir ajuda externa, sem julgar o fato do outro pensar diferente. Normal você não achar aquele modo certo, normal você preferir as suas ideias, ainda mais caso forem muito distintas. Mas inútil rotular quem não acredita no rótulo; todo seu esforço de julgamento é despercebido.

Eu sou, eu acho.

A vida é muito e é pouco. É extrema e peculiarmente bonita e contestável. É extrordinária mas tão limitada! Temos uma capacidade insuficiente para explorá-la consideravelmente. E é tão belo o jardim! O jasmim! A crença no querubim! O fato de haver tantas diferentes perspectivas. É tão belo como o simples é tão complexo! Falo da caída da chuva, do choque da gota na grama, das relações harmônicas ecológicas. Dos mistérios da natureza, do universo. Da psicologia, dos sentimentos, especialmente quando sentidos intensamente à flor da pele. Uma música, uma nota, um tom. Eu acho magnífico. E eu gosto de espalhar essa ideia. Eu acho muitas coisas, sou composta por átomos e por conceitos. E do modo que cada átomo meu é constituído de algo, o mesmo acontece com os meus conceitos. Sou o trovão e a brisa na sua companhia. Sou o berro do urso na sua ausência. Sou o barulho da onda arrastando a areia e dando ênfase a cada grão, quando deslizo as mãos em cada botão da sua roupa. Sou a grama pisada quando ignorada por alguém e a formiga esmagada por um gigante pé humano egoísta quando por você. Sou diferentes instrumentos em diferentes situações. Sou paino, flauta, trambone, bateria. Eu acho interessante quem vira a noite lendo e impressionante quem vê arte em arte. Eu penso mais a cada dia, entendo mais a cada dia, mudo mais a cada dia. E é tão clichê dizer isso, mas eu acho que clichê é a última coisa que sou. Eu sou estações porque sou mudanças. Eu sou o laço na cabeça porque eu sou fã dos anos da brilhantina.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Gostei do que senti.

De repente me perco entre as palavras do livro e não consigo mais ter em mente os acontecimentos do que leio, e sim só o rosto do defensor do rock'n'roll. Por um minuto olho o celular e espero que toque, mas logo acho melhor que não, e espero que toque mais tarde, quando eu já estiver dormindo. Gracioso seria acordar e descobrir de uma forma diferente a sua vóz. Por um instante, as reações do meu corpo se tornam mais rápidas, parece que tudo acontece de uma forma diferente, dentro de mim. Gosto dessa ansiedade, dessa alegria e dessa insônia. Gosto de como ele faz eu querer me conhecer mais e conhecer o que me faz ser o que sou. Gosto da ideia de nós dois juntos, gosto da possibilidade de trabalhar em uma conquista. Gosto das palavras sinceras dele, por mais tardias que sejam. Gosto que ele saiba quem eu realmente sou e dizer o que acha sobre isso. Só não gosto de algumas coisas como tempo, distância e um certo nome feminino. Mas gostei de uma pessoa ter me feito bem por algumas palavras. Gostei de coisas que senti no momento em que pensei que não podia mais sentir nada, independentemente dessas coisas continuarem ou não em mim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Amizade.

Um sentimento chamado amor e que neste predomina os sentimentos mais difíceis de se encontrar hoje em dia. Confiança, admiração, respeito e afeto são umas das muitas coisas que sinto fielmente por você, e que continuarei sentindo. Se existe destino, ele que nos uniu, se não existe, sei que foi alguma força, pois não é comum encontrarmos amizade tão bela assim como a nossa. Não digo perfeita, não, nossa amizade está longe de ser perfeita. Isso seria muito irreal e falso. É uma amizade que independentemente de todas as imperfeições, se fortalece, se enche com mais luz e energia, a cada dia. Sei que com palavras é árduo o trabalho para explicar sentimentos verdadeiros, mas tento um pouco. Por exemplo, fazer você entender que é importante para mim é necessário. Não importa o esforço, seja por palavras ou atitudes. Apenas precisa saber que ocupa grande espaço em meu coração e que é intensamente essencial para mim. Não precisamos provar nada para ninguém, apenas quero que VOCÊ saiba; eu te amo.

(Ano de 2009)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vontade.

Eu só queria que você falasse que estava a caminho. E mesmo fisicamente incapaz, eu iria a seu encontro. E não importava o lugar, o horário, as condições que fossem impostas. Não importava as consequências que provavelmente eu iria enfrentar depois, não importava o meu estado, mais sério com certeza era a minha vontade maluca de te ver. E eu só precisava disso. Eu deixaria o edredom, os remédios e a acomodação em casa, só para te ver. Era tudo que estava na minha cabeça naqueles dias; não tinha mais espaço para nada além de você e as bandas que eu apreciava no SWU pela TV. E você não veio. E não avisou, e não veio depois explicar o porquê, não veio de nenhuma forma. E isso só aumentou a minha vontade de você. Aumentou a vontade de sentir seu cheiro, de abraçar seu peito, de ouvir a sua voz e a sua respiração, provar sua jaqueta e seu beijo. Estou enlouquecendo ao querer essas coisas e acho que tudo bem, pois você é a única pessoa que gosta do meu jeito louca de ser. Vamos ser loucos juntos, vai. Pegue o carro e venha, mas venha de verdade desta vez...

Confortável.

Eu sempre fui impulsiva e é de minha natureza não conseguir controlar meus sentimentos. Desequilibrada, esparolada e exagerada, eu sei. Dona de sentimentos intensos que adoram chegar de surpresa. Confesso que não esperava isso, não tão cedo, não com você. Mas, como de costume, minhas paixões não tem aviso prévio, nem ao menos indicam que estão se instalando. Não há sinal amarelo para eu prestar atenção e muito menos vermelho em situações mais extremas para eu parar de uma vez. Simplesmente, e simplesmente mesmo, sem a menor complicação, eu senti alguma coisa diferente. O dia era outro e eu já não sentia vontade de chorar; o ar era outro e eu conseguia respirá-lo sem me sufocar; o cheiro era outro e eu já percebia os sentimentos de culpa e frustração abandonando meu corpo; a noite era outra e ela não estava mais tão fria, independente da temperatura; meus planos eram outros e nisso não se incluia aqueles impossíveis. Era uma sensação renovada. O fogo ardia sem queimar, o corpo perdia sem desnutrir, as emoções batiam sem destruir, eram fortes e faziam bem. Depois de um tempo considerável, eu me senti bem. Era estranha e deliciosamente confortável.

Sozinho.

Engraçado ver agora que você realmente está sozinho. E não venha dizer que sempre esteve, eu estive à sua disposição, todo esse tempo. E você nunca esteve sozinho. Tinha alguém que te observava, acompanhava, se importava. Alguém que fazia independentemente de qualquer condição, circunstância, fato. Alguém que esteve parada, e quando seguindo algo, isso apenas sendo os seus passos. E se você quisesse chorar, desabafar, desmoronar, enlouquecer, banalizar, exibir... meu maior e único desejo era estar lá. Eu esperava sem pressão por palavras, carinhos, beijos, uma e qualquer aventura... sempre que você quisesse qualquer coisa, eu toparia. Agora, hoje, neste exato momento, o máximo que poderia te oferecer seria uma conversa. E isso porque eu adoro conversar e eu sou muito legal. Então, se um dia acontecer de você querer falar dos motivos daquela tristeza na qual um dia eu depositei tanta curiosidade, apenas por eu ser muito legal, eu ouviria. Como ouviria de qualquer outra pessoa, como me faria bem ser legal com alguém sendo qualquer esse alguém. E isso sim significa que você está sozinho. Pois eu não vou mais te procurar. Eu não vou mais me preocupar com seus olhares tristes e seu andar cabisbaixo, eu não vou mais comprar brigas, perder oportunidades, investir em conhecer suas razões. Não vou mais ser detalhista com você, não vou mais ligar, não vou mais perguntar nem comentar. Porque já não me interessa. E eu era a única que se interessava de verdade e você devia saber disso. E agora você está realmente sozinho. E agora eu tenho um cara que me quer e eu quero esse cara. Mas antes eu não me importava e não o dava uma chance, porque eu estava ocupada demais escrevendo para você e olhando para você e respirando para você. Mas você disse para eu viver a minha vida e eu estou agora muito feliz em perder a minha noite por pensar em outro cara e só escrever isso às quatro da manhã porque eu perdi o sono vendo a foto desse cara e só lembrei de você e comecei a pensar nisso tudo porque é de lei vir à sua cabeça qualquer e toda coisa quando você começa a refletir constantemente sobre um assunto abrangente e geral. E você está sozinho. Talvez não fisicamente, talvez com alguma aí, típico e provável, mas sozinho do modo que ninguém quer estar. Sozinho de dedicação e profundidade. Sozinho do jeito mais frio.

domingo, 17 de outubro de 2010

Poço.

Eu só não sei se fico feliz por conseguir sair daquele poço tão fundo e tão escuro e tão triste e tão vazio e tão gelado cuja profundidade parecia não ter fim e eu já tinha até uma certeza de que jamais sairia de lá e só me restava fazer amizade com o eco, e agora me entrego de corpo e alma me jogando ao novo buraco que me tenta, sem medo de ele ser um poço disfarçado como era de princípio o anterior, e sem medo da profundidade e de só me restar o eco no final, também; ou se aprendo com a experiência e agora me quieto, sejo sábia e me distancio de qualquer armadilha que possa me puxar para um poço; pois começa assim, eu caminhando feliz em direção ao que me convém, e acaba que eu me encontro em uma areia movediça e simplesmente não me resta nada a fazer a não ser afundar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Para este momento.

Tá, então você fique com ela se ela for realmente o que você procura em uma mulher. Se vulgaridade te empolga, mesmo que seja exposta não só para você mas também para seus amigos e até desconhecidos. Se para você tudo bem qualquer um ver os peitos da sua namorada. Se para você tudo bem não ter a certeza de ser o único. Se para você tudo bem, porque ela usa óculos redondos e diz gostar demasiadamente de rock'n'roll. Tudo bem se ela é o tipo de mulher que você quer, a do piercing, da tatuagem, da cerveja, do cigarro e da maconha. Se for ela o seu tipo de menina preferido, se você espera por um modelo como o dela para sua namorada, então aproveite e ouça muito Pink Floyd com ela, seja ela entendendo a essência da banda ou não. Comente muito Bob Marley com ela, já que ela tem uma tanguinha das três cores e faz tanta questão de mostrá-la para todos! Mas... se ela não é, mas beija bem, transa bem, ou faz qualquer coisa bem, e você um dia cansar, e quiser quem você realmente considera sua menina preferida e para algo sério, e vier atrás de mim; se não passar muito tempo e a espera não me cansar e desiludir como já fez outras vezes, quem sabe algo flui. Te empresto meu livro do John Lennon e discutimos sobre; em algum aniversário, te compro de presente um livro do The Doors que um dia vi na livraria e sucessivamente lembrei de você; eu ouço mais do que sobre música, ouço você falar qualquer coisa, asneira ou revolta, problemas ou histórias. Mas desta vez, vou tentar ser diferente. Ser diferente de todos meus modos de lidar com qualquer tipo de relacionamento, diferente de mim quase que por inteira. Não acredito em destino, alma gêmea e uma única pessoa certa para cada outra. Mas acredito em uma pessoa certa para cada momento. E desconheço o motivo, mas algo está tendenciando à encaixar você nesse papel para este momento. E se você realmente for, a sua vou ser eu, e não aquela que pede para permanecer ao seu lado em inglês.

História Antiga.

Entre no seu carro antigo, ligue o rádio e ouça o seu Rock Clássico. Ela está quase pronta. Saia do carro, fique em pé ao lado carro, vire para o carro, alize o carro. Ela está passando perfume. O cenário é todo preto e branco, o homem é Grease e a mulher usa saia alta. Entre na casa, homem, e grite que vão chegar tarde ao teatro se ela continuar com a demora. Assim, ela já aparece na escada. Você a olha e se encanta, ela é sua, pode se encantar; e você agora vai exibi-la para seus amigos de profissão e de baralho. No teatro a peça é curiosa, porém os brincos e colares e pulseiras da sua mulher são mais atraentes. Alguns olham, comentam, outros somente olham. Vocês assistem à peça e voltam para a casa. Você percebe o tédio no olhar da amada, quer satisfaze-la, mas não adianta abrir a carteira, ela quer mais. Ela quer passar medo, seus olhos imploram por aventura, seu sorriso malicioso te convida para o improvável. Tranque a casa, abra a porta do carro para ela e saiam sem rumo. Ela está feliz, sente que seu desejo foi descoberto, adora a velocidade com que o vento agride seu rosto e os beijos repentinos que ganha de você. Está aprendendo, homem? Ela não vê valor em exibir beleza aos quatro cantos, ela vê valor em estradas ao cenário escuro da meia-noite enfeitados pelas estrelas. Ela não quer chão, ela desliga o rádio por um momento e quer conversar sobre besteiras, rir por nada, te dar tapas e amassos. Ela fecha a cara, fica séria, quer ouvir você falar coisas inteligentes para se apaixonar ainda mais. Voltem para casa e não deixe a aventura do outro lado do portão. Impressione-a no jardim, divirta-a na cozinha e brigue com ela antes de dormir mas depois acorde-a beijando-a. Ela quer sair da rotina com você e você sabe que adora esse espírito neurótico e excêntrico que ela carrega em seu corpo. Então valorize, homem. Faça-a sentir valorizada, ensine a ela o seu valor. Elogie e diga sempre, em qualquer vão momento, o quão se considera sortudo por alguém tão guerreira e de bom coração e de loucas ideias te fazer companhia, te tirar o sono, dormir ao seu lado. Não deixe-a tremer de tristeza, abrace-a forte e lute contra seus inimigos; é o mínimo que pode fazer por quem trouxe alegria à sua vida. Homem, esta história é antiga, mas continua a se repetir na modernidade...

Conhecer.

Pois bem, eu quero te conhecer, ele disse. Mas quero te conhecer pela essência. Te conhecer eu já te conheço, mas eu preciso te conhecer. Preciso saber se você ri com som ou não, se grita na rua, se é meiga com palavrões, se do nada começa a cantar, mesmo com gente perto. Se fica nervosa com um elogio, se seu perfume é doce ou floral. Preciso concretizar diretamente meus conceitos ou modificá-los antes. Mas preciso. Preciso te conhecer por essência. Preciso conhecer um pouco mais da maravilhosa e intensa e corajosa mulher que sei que há dentro desse corpo, conhecer um pouco mais das ideias que se abrigam por debaixo desses cabelos castanhos-caju. Conhecer, conhecer, conhecer. E o que vier depois será consequência.
E ele conheceu e descobriu. Que o perfume dela era doce, mas às vezes usava floral, que ela grita e passa vergonha não importa onde esteja, o que leva as pessoas a a apelidarem de louca, que ela canta do nada, e ainda dança. E há coisas que só se descobre depois de alguns encontros, tipo, o modo de beijar. E ele descobriu.

Uma graça.

Acho incrivelmente corajoso da sua parte vestir esses calçados em público, e acho incrivelmente bobo seus sorrisos em horas inoportunas, mas continuo sorrindo junto. E odeio quando bebo e lembro de você, quando uso pessoas e firo sentimentos devido à minha mania estúpida de pensar que assim posso te esquecer. Mais ainda, odeio a sua aliança com as caixas de cervejas e a minha constante dúvida de se você já pensou em mim, pelo menos uma noite, em qualquer bar, por qualquer motivo, mesmo que bêbado. Não gosto de todos e qualquer assunto relacionado à faculdade que você cursa, mas não tenho coragem de te dizer o quão entediante isso tudo é para mim; no fundo, acho até uma graça. É a profissão mais linda, com certeza a mais linda. Tudo que vem de você é lindo, tudo que você passa para mim em um encontro ao abraço, em um beijo ou em uma briga e tudo mais, é lindo. É lindo e ultrapassa a definição de lindo, porque nem todo mundo te acha lindo. Eu sei, loucos eles, não?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Conto [5]

Quer um pedaço? Ele ofereceu à menina dos olhos tristes refletidos no lago. Não, obrigada. Acompanhando a maré, respondeu ao menino da blusa de frio escura. Vamos lá, depois eu pulo de novo para dentro da casa 47 e pego mais; o problema é que só tenho esta, mas quero te oferecer. Não, obrigada. O que você quer, então? Quero ficar aqui. Não acho uma boa ideia. Por quê? Fico preocupado com você, está frio, você deve estar com fome e não quer um pedaço. Como resposta, só um sorriso logo apurado seguido dos olhos arregalados da menina. Não entendi. Nem eu. O que foi? O quê? Um silêncio. Acabou o silêncio quando começou a tocar as sinfonias dos insetos como plano de fundo. Como de costume, em situações dessas, eles trocavam de assunto rapidamente. Viu, o que cai mesmo na prova de matemática? Os dois nunca foram tão amigos. Para ele, desde o primeiro dia de aula da primeira série, ela era só uma menina cujo cabelo refletia o sol e ao luar eram mais negros do que como os que imaginava sendo da Iracema quando lia o livro na escola, ao lado dela, aliás. Para ela, ele era o menino mais lindo do mundo, desde a quinta série, quando tirou o aparelho. Mas ele não sabia disso. Nem ela de que ele gostaria de fazer tranças em seus cabelos todos os dias de manhã, e apenas observá-los, soltos, todos os dias, à noite, enquanto viam as estrelas e conversavam com os pés no lago. Me perguntaram por que você anda comigo, disse o menino com medo da resposta, então com os olhos fixos na grama onde estava sentado. Como assim? Não vou te responder isso. É algo ruim, então. A menina levantou-se para ir embora, devolveu-lhe suas luvas e deu-lhe um beijo da bochecha, como de costume, todos os dias, todas as noites, exceto nos feriados devido às viagens de família. Entrou na casa e começou a escrever no seu diário. Ela sabia que não tinham perguntado nada à ele, ele é que queria saber. Mas ela também tinha vergonha, e em vez de responder a pergunta informando-o de todos os porquês, que não eram poucos e muito menos ruins como ele pensou, mesmo que olhando fixamente para qualquer árvore ou até para a mesma grama que ele, ela preferiu fugir. Como quando começou a fazer desde a sétima série. Mas escreveu tudo no seu diário, como fazia desde a oitava. Foi se deitar, mas antes fechou a janela e acenou para o vizinho. O menino mais bonito da classe no fundamental, o mais engraçado colegial, o mais popular na faculdade. Mesmo depois de anos, a mesma grama, o mesmo lago, os mesmos acenos antes de dormir. Mas agora com direito a mensagem no celular de boa noite. Mas agora com benefícios. Antes o menino pulava cercas, roubava amoras. Antes conversavam sobre provas, ele emprestava luvas. Agora trocam beijos, e continuam amigos. Agora bebem e vão para festas, mas continuam terminando as noites no mesmo lago. Tem dias que dormem juntos, e sentem saudade de fechar a cortina. Tem dias que eles se separam, mas continuam amigos. Quer um pedaço? Ofereceu uma amora o homem de 24 anos à menina dos cabelos mais bonitos do que o da Iracema.

Meu papel te rejeita.

Preguiça de pressionar a caneta sobre o inocente papel. Agora, escrever de você é como se machucasse cada página, como se pusesse sobre cada linha um peso gigante, que causa feridas profundas, capazes de incapacitar o futuro reciclamento. Sinto como se as folhas me falassem que você não é digno de estar ali, em cada simetria dos meus versos. Como se avisassem para eu mudar os pretéritos, os donos dos sentimentos que esbojo a cada rascunho.
Agora não são mais meus amigos ou parentes que me alertam. É a escrita, que me conhece mais profundamente do que meu próprio encéfalo. É o papel, meu maior confidente e melhor amigo. É o meu incentivo para a escrita, a minha impulsividade diante da expressão por via das palavras, meu mais seguro refúgio. É onde me encontro que sinto ter que te perder.

Erro meu.

Talvez foi erro meu. Erro de ter acreditado em uma história, erro de construir, sem bases sólidas, um script. Talvez foi erro tentar, tão persistentemente, me aproximar de você e de tudo que te acerca.
Quem sabe se eu não fosse tão esperançosa!... Talvez as chances seriam maiores, se eu simplesmente deixasse serem. É, talvez. Talvez eu me precipitei várias vezes. Talvez eu exagerei. Talvez eu quis aparecer. Pra você. Talvez eu fugi. De você. Talvez foi um erro. Tudo. As sufocações, os medos, as ligações, os encontros, os olhares, as evidências; talvez eu forcei, talvez eu exagerei. Talvez eu quis desafiar o tempo e dizer: "Viu? Eu sou mais rápida! Eu sou mais capaz!" Talvez eu quis provar para mim mesma e talvez até para todos que duvidavam. Talvez para aquela canção que, de uma forma estranha, resumia nossa história. Ou minha história, pois talvez eu construi, sem bases sólidas, um script. Talvez você foi só um figurante. Ou talvez a personagem principal.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sou eu.

Ela não deixou de dormir. Ela não chorou ao ouvir falarem que te viram chorando. Ela não voltou depois que você foi. Ela não admira o trabalho e esforço do seu irmão. Ela não quer saber dos motivos e das paixões da sua irmã. Ela não tem curiosidade e vontade de conhecer seu outro irmão. Ela não quis ser amiga da sua mãe. Ela não quis ser querida pelo seu pai. Ela não quis ouvir as histórias dos seus avôs. Ela não quis ir ao Morumbi com você. Ela não quis passar o tempo no seu sítio. Ela não quer fazer parte das conversas de fins de anos das suas primas. Ela não quer te acompanhar nas visitas à sua mãe, nos finais de semana. Ela não sentiu algo ao entrar no seu carro. Ela te olha, não te enxerga. Seus lábios, para ela, são banalizados pelos beijos. Seu perfume é só mais um cheiro importado. Suas roupas se limitam em estilo. Isso vale para ela e para qualquer outra. Para aquela com quem você terminou há pouco tempo e para aquela que está no seu sofá agora. Inclusive para aquela que você ainda vai beijar. Menos para uma. Pois uma é diferente, uma se importa, uma sentiu e sente tudo isso. Só uma é idiota o bastante para continuar te querendo de um jeito tão improvável. Uma que não teria vergonha de assumir. Não teria vergonha de te assumir. De assumir tamanhos sentimentos, sentimentos por você. Uma única que não teria vergonha de falar: sim, sou eu.