terça-feira, 22 de novembro de 2011

Me desprender.

É muita informação. É muito desejo misturado com rancor. É muito sentimento de culpa. Tanto tempo te desejando, desejando cada parte sua, cada migalha de carinho, de afeto, de aproximação. Tanto tapa na cara, tanta batida de cabeça na parede pra aprender, tanto sofrimento pra enxergar uma verdade - e, ainda assim, tentava me enganar, como consequência tive que passar por uma das maiores decepções da minha vida e transformar minha cama em uma ramificação do oceano atlântico porém abastecido de lágrimas. Tive que passar por uma etapa difícil, complicada, na qual eu não conseguia nem saber ao certo o que era certo - e também o que era errado. Momento quando você está tão atordoado, tão confuso, que acaba se perdendo na própria tristeza, não tendo mais sentido, direção. Mas aprende. Finalmente. Chega o tal momento, quando a raiva suga todo o seu afeto, quando a tristeza congela todos seus sentimentos: você supera. Você consegue passar por perto e não sentir o perfume, consegue dormir sem lembrar do cheiro. Consegue olhar e não derreter, tocar e não gelar. Isso é, sim, superação. Mas quem disse que superação tem de ser permanente? Basta uma recaída para te dizerem: "você nunca superou."!? Que expressão devo utilizar aqui? Me perco. Claro que eu superei! Eu não pensava mais, eu não lembrava, eu não sofria, eu não me alegrava. Passou a ser indiferente... claro, depois de muita raiva, de muita cobrança, de muito esforço, de muito nojo. Talvez esse último permaneceu, mas deixa eu te dizer uma coisa, amiga minha: eu superei! Agora, eu não sei que tipo de efeito me causou aquela bebida ou que tipo de mistério partido daquele céu nublado de madrugada me atingiu para que voltasse, aos poucos, nos últimos melhores e mais importantes momentos dos meus últimos anos, todos aqueles sentimentos. Começou com a choradeira, despertou um pouco de raiva, chorei, gritei, xinguei, joguei os sapatos no muro. Mas depois, foi só tristeza mesmo. Chorei, chorei, chorei, chorei no muro. E começaram a florescer sentimentos que eu havia enterrado, depois ainda arrancado, cortado a raíz - e isso há muito tempo: já nem os reconhecia. Tinha desprovido o campo emocional do húmus das lembranças, feito de tudo para que meu coração se transformasse em um lugar, assemelhando-se à uma pedra, à um chão de pedras, de rachaduras, de terra seca, sem nenhum tipo de vegetação, muito menos mais evoluída, bonitinha, com florzinha. Pelo menos em questão a ele. Agora me diz da onde surgiu um ramo que voltou a crescer? E me explica, por favor, como aconteceu tão rápido? Quando virei, vi aquele corpo e voltei a pensar como pensava ainda na idade anterior à minha agora: EU QUERO. Isso prevaleceu: querer. Voltou o desejo. Eu tentei, por um tempo, me enganar: óbvio, não podia admitir que depois de tanto esforço, tanto sofrimento e tanta glória pela superação, tudo aquilo voltasse, e assim tão fácil. Mas depois entendi que não adiantava: o desejo já estava ali, se instalando. Briguei comigo mesma, mas não consegui me manter em equilíbrio, em distanciamento, pelo menos: tive que me aproximar, mesmo que aos poucos. Tive que soltar uma, como: "está acabando o ano e eu ainda não te conheci". Sei lá se ele entendeu isso! Mas pra mim, por mais impulsivo que foi, foi uma das frases mais verdadeiras que eu poderia soltar. Não penso em outra forma de expressar o que voltei a sentir naquele momento a não ser: "quero muito te experimentar" ou "ainda não te conheço mesmo depois desses anos todos". É, eu conheço uma parte, ou pensava que conhecia. Sei a cor preferida, a cidade da mãe, alguns gostos pessoais, desde música à culinária. Mas não sei quem é, me confundi todo esse tempo tentando entender seu caráter, sua essência. Talvez simplesmente nem isso tenha - já acreditei muito nessa possibilidade. Mas me doeu encarar aquilo: uma das minhas últimas noites naquele meio e certamente com ele também e ainda não saber quem ele era, por quem eu me apaixonei, pela primeira e mais perdidamente vez. Eu só queria ter superado completamente sem poder fugir. Na última festa, eu me senti orgulhosa de mim mesma, pois pensava que não iria resistir, há alguns meses tinha medo de fazer o que eu esperava há alguns anos, como mostrar alguns textos, falar algumas coisas já ensaiadas. Nem o olhei direito. Mas nessa de agora... ainda não compreendo, só sei que voltei a desejar. Minha boca voltou a querer molhar seus lábios, minha pele voltou a querer entrar em contato com o seu rosto, o meu corpo voltou a querer a colisão. Mas depois volto a saber de coisas que me deprimem por um tempo mas depois só me enojam - sim, a ponto de eu ficar com ânsia, sentir, sinceramente, sem metáforas desta vez, embrulho no estômago; será isso devido ao sentimento ser muito? Parece estranho, mas é como acontece. Com nojo de você com outra no carro, com nojo de você com outra além da outra no mesmo carro, na mesma noite. Com nojo de você, com raiva de você, com raiva de mim por sentir tudo isso, simplesmente por sentir tudo, simplesmente por sentir TANTO. Mas não há, mesmo, o que fazer. A única coisa que eu entendi com tudo isso é que eu não sou tão forte quanto imaginava que fosse, quanto eu acreditava que eu fosse. Eu supero, mas basta você me tratar com um pouco mais de gentileza, me elogiar ou me dar algum tipo de indício de que se importa, que a minha mente fica confusa, que embaralha todas as ideias, que distorcem todos os sentidos. Aprendi, então, que você nunca será alguém normal para mim. Sempre será aquele por quem eu me apaixonei, aquele que eu não consegui entender, com quem não consegui me relacionar, mas sempre aquele que eu vou querer, por mais raiva, nojo ou tristeza que possa me causar. Não consigo fingir mais, e por um lado sinto alívio de estarmos quase entrando em dezembro e da minha vida mudar completamente no próximo ano, pois não serei mais obrigada a me forçar superar, a me forçar a te ver como "tem que ser", a me forçar ter que "saber separar as coisas", coisa que sempre foi muito difícil pra mim. A partir de agora eu encerro tudo, eu deixo pro vento a missão de levar todas as lembranças, para a cidade que guarde com muito carinho todos os momentos que talvez não se perdem. Eu espero que ano que vem eu esteja onde eu quero estar, onde você acredita que eu consigo chegar. E que sempre que voltar para cá, quando lembrar disso, pois será inevitável, que eu não lembre mais com nó no coração, com danças na garganta. Agora vou me desligar totalmente desse mundo de você, me desviciar de tudo que eu alimentei por esses três anos, buscando um efeito cem por cento eficaz. Por mais que eu tentei outras vezes, sempre tive medo de sobrar algum resto (quem sabe um dia eu te entrego um texto que exprime melhor esse medo?), sempre tive aquele ruído de dúvida, aquele sentimento de que ainda teria que te ver, ainda teria que te encarar, muitas vezes pro meu próprio bem eu teria que ter que te falar. Mas agora não. Agora é, realmente, o fim. Eu não pensava que seria assim há um, há dois anos. Mas tudo bem... nunca quis um conto de fadas mesmo. Desejava apenas que fosse. E nem isso chegou a ser. Foi o mais frustrante apesar de tudo - sim, apesar de toda dor, de toda descoberta, de toda mentira, de toda lágrima. Mas agora o que tiver que ser, será. Eu vou conseguir sucesso com ou sem você, vou alcançar o que almejo com ou sem a sua ajuda e vou me sentir muito feliz e orgulhosa com ou sem o seu parabéns. Nada mais me prende a você e vou usar isso como instrumento para me desprender completamente desse laço que, sem consciência, acabei transformando em um nó.

Temos nosso próprio tempo.

Aprendi a não desejar com tanta força que as coisas passem, que o tempo corra, que as vitórias cheguem logo, que os momentos criem asas. Aprendi, quando cinco horas de festa se transformaram em 50 minutos em uma metáfora e hipérbole justa ao que parecia, que cada momento é, realmente, único. Eu já sabia disso, mas não tinha aprendido. Aprendi que cada momento é digno de sua espera, até mesmo de suas expectativas. Cada momento tem seu tempo, por mais batido que possa parecer dizer isso. É simplesmente a mais crua verdade. É preciso esperar por cada coisa que te aguarda, cada comemoração, cada encontro, cada desafio. É preciso que nessa espera você saiba se deliciar com outros assuntos, outras visões, não só naquela expectativa. É preciso que nessa espera você continue vivendo e esperando. É preciso esperar. É preciso viver cada dia de cada vez, como se único, como se fosse o último. É preciso que, enquanto você espera pelo seus próximos 214 dias, você passe, no mínimo, 214 dias VIVENDO: não apenas esperando que eles passem, não vendo-os passar por você, não matando-os no tédio e na aparente infinita espera. Porque uma hora tal dia vai chegar, aqueles outros 200 e alguns vão ficar para trás e justo aquele dia que você tanto esperou, por mais especial que seja, por mais divino, vai acabar; também vai passar. E se você se perdeu tantos dias da sua vida na espera por um único, vai perceber que simplesmente rasgou e jogou no lixo vários da sua vida, como folhas de papel sem utilidade. E quando você perceber que a vida é uma só e que ela é extremamente curta e surpreendentemente fugaz, vai ser pior: vai se arrepender de não ter escolhido uma música diferente pra cada dia, uma loucura diferente para cometer, um amigo diferente pra abraçar e beijar. Não, não é possível que todos os dias de todos os anos da sua vida você escolha uma música, abrace um amigo, faça uma loucura. Mas cada dia que você perde sem coisas minúsculas, é MUITO. Logo, cada dia aproveitando de qualquer maneira possível, aquela que te favoreça no momento, já é o suficiente, pois já não estará deixando uma parte da sua vida em branco, estará vivendo, estará em ação. Contínua ação: isso eu considero fundamental ao passar dos nossos tempos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os dois lados me deprimem.

Quando estudava movimentos sociais, movimentos republicanos, revoltas regenciais... lembra daquelas aulas de história? Quando estudava esses temas, como não sentir orgulho de certas épocas históricas nossas? Desde que eu, pelo menos, me conheço como cidadã - não digo gente, porque como gente me conheço desde os 5 anos, talvez, e essa não é a idade, é a idade que eu me conheço como ci-da-dã, mesmo, com direitos, com ideologias, com preferência política e religião - espero por uma mudança, por um "movimento". Desde o começo de todo esse papo de disparidade de informações, da nova era da tecnologia, da grande influência da internet para movimentos sociais em prol de um bem geral, de uma sociedade justa, de toda essa história de direito comum. Desde que conheço a realidade do meu país, e desde que eu comecei a entender um pouquinho sobre a realidade do mundo, o que há por trás de guerras, de movimentos, ideologias, golpes, alianças etc, esperava, sinceramente, eu realmente esperava, pelo dia em que a minha geração ia tirar o corpo da frente do computador e se manifestar. E não digo que estou certa, óbvio, pois aqui estou eu, como muitos, criticando na frente do meu computador. Mas admito que não participei de nenhuma manifestação revolucionária, e não, não me sinto inútil por isso. Inútil acho que são aqueles que, mesmo viradas 24 horas com um papelão na mão, dizem lutar por um ideal, o qual é inútil. Então me pergunto: Seria conveniência? É muito legal posar de quem luta por direitos, de quem tem ideologia, de quem faz protestos, de quem dá a cara pra bater. Mas é cansativo demais se rebelar contra a fome e a corrupção, lutar para garantir a sobrevivência dos seus igualitários, pois de acordo com a sua ideologia esquerdista, todos somos iguais. É muito mais fácil quebrar um patrimônio público, até porque você não vai pagar por aquilo, mesmo. No máximo seu pai. É tão mais fácil dar dois passos e quebrar uma janela alegando ter direito de se manifestar, ter direito, como cidadão, de ter voz ativa - mas mascarado. Mais fácil fazer isso por seus próprios direitos. Direitos mais importantes que os mínimos e básicos que são esquecidos diariamente pela população, governantes, policiais, sim, mas também deputados, seus pais empresários e até mesmo você, estudante. Esquecidos por você, sim. Que só se lembra de uma pequena coisa: seu completamente e totalmente particular e pessoal "direito", mas claro, assim como de seus amigos, e de "todos": de fumar maconha. Deixa o cabelo crescer, a barba, fuma um cigarro e se sente nos anos 60. Acabei de ver uma foto de um que vestiu uma camiseta do Pink Floyd e foi lutar contra a PM argumentando como se estivesse nos anos 60. Ditadura! Alunos da maior Universidade pública do país... é difícil acreditar. Você pode amar os anos 60, estar cursando História ou Filosofia e ser apaixonado por tropicalismo, contracultura e até mesmo se lamentar ouvindo Roger Waters por ter nascido na época errada. Era, realmente, uma época de mais valores ideológicos. Pessoas lutavam contra a ditadura e não, não vivemos mais em uma ditadura "real" mas em uma ditadura imposta disfarçada, con-cor-do. E sim, são poucos que veem isso e se manifestam. Mas em contraste, vemos nossa sociedade, realmente, perdendo valores, causas, pelo quê lutar. Revoltas republicanas, populares, tudo muito lindo de estudar. Mas estamos em tempos diferentes. Amigo, entenda, mu-dou. A mídia continua envenenando casas, as revistas compradas manipulando pessoas e os conservadores de plantão estão aí. Os ignorantes, em massa. Não concordo nada com esse tipo que usa como argumento: "maconheiro bandido". Me deixa mais revoltada ainda. Não tolero tal atitude da PM, sou contra qualquer tipo de violência. Não estou em cima do muro, estou indignada com o meu país. Quando sai um "confronto" desses, uma história que podia ser bonita, com conteúdo, com lições para se tirar, aprender mais sobre ideologia, se or-gu-lhar do seu país, nos deparamos com isso. Causas insuficientes e erro nos dois lados. E não é que "todo mundo erra, mas escolhe um lado". É difícil "escolher um lado" quando ambos são vagos. Apoiar estudantes bancados por pai que em tempo livre destroem o que a população paga com seus impostos? Descontam em um dos mais desejáveis lugares para se estudar, idealizado por MUITOS, que sonham em um dia serem alunos de uma Universidade tão grande, tão imensa nos valores culturas e morais e também, sobretudo, profissionais. Vestem-se para fazer uma manifestação... pelo direito de fumar maconha no campus! Reclamam da polícia no campus, mas também reclamam da ausência dela, quando acontece algum acidente. Não respeitam a vontade da maioria: se de 10 amiguinhos seus, 8 não querem que a maconha seja liberada, aceite! E vá, com os outros 2, achar um lugar onde possa fazer isso sem que prejudique a maioria. Isso é respeito, educação. Alguns valores tem que ser mantidos. Agora, PM tratar pessoas que, por mais desvalorizadas possam ser suas causas, ainda a-pe-nas estão defendendo algo em que acreditam, como lixo, como submersos, inferiores, é lastimável. E pessoas que acham que está certo "descer o cacete, meter porrada, enxer de bala de borracha, acabar com eles..." é mais lastimável ainda! Cadê o senso? Por que não podemos ser "moderados", visando apenas uma MELHORIA GERAL PARA A POPULAÇÃO, para o BRASIL, para o estudante da USP e para o de ensino fundamental da escola pública do Rio de Janeiro? É tanta hipocrisita, por tantas partes, que às vezes me perco entre tanta nojeira. Tenho vergonha de certos "idealistas" que sujam ideais nos quais também acredito. Acredito na revolução, acredito nas causas, acredito na infecção da mídia, acredito na exagerada e dispensável repressão da PM, acredito no poder de lutar pelo quê acredita, acredito numa ideologia, acredito no liberal, acredito na esquerda. Mas espera aí, às vezes moleques de 20 anos se perdem nessa busca pela imagem do intelectual esquerdista. Não acho que seja má fé dos estudantes, não, não estou, de jeito algum, defendendo aquele discurso pobre e preconceituoso de que sejam ignorantes ou muito menos bandidos. Mas que estão perdendo seus valores, isso estão. Que estão perdendo tempo e disposição por essa causa e esse alvoroço todo, estão. Poderiam guardar essas energias, esse salto de idealismo e vontade de se reunir em bandos com cartazes pra impedir, de uma vez por todas, a corrupção, já clássica, que ocorre diariamente no nosso país, enquanto nos fazem de bobos, enquanto nos cegam. E, ironicamente, enquanto marcham com um cartaz contra a Globo, estão ajudando-a a ter mais poder, uma vez que usam essa pseudo-revoluaçãozinha como mais um dos jeitos de esconder outros casos realmente importantes. Tem gente morrendo, tem gente sofrendo com as injustiças e crueldades desse país. E tem gente que não sabe. E tem gente que não tem culpa por não saber, pois acredita na Globo, e apenas o que vê, são vocês, amigos, fumando um na cara do policial. Me deixa triste, pois falta ideologia! Queria ver ideologia, queria me sentir orgulhosa daqueles que serão meus médicos, advogados, cientistas, professores da próxima geração. Gente lutando pela garantia de um futuro melhor, pela garantia de uma aposentadoria, pela garantia de um sistema educacional decente e igualitário, pela garantia de comida na casa de todas as famílias, pela garantia de uma democracia realmente verídica, pela igualdade social e econômica e cultural, pela garantia de "pelo menos não morrer" na fila de um atendimento médico. Mas não... vejo pessoas, encapuzadas, quebrando e dizendo: "quero fumar maconha em paz." E depois, vejo pessoas dizendo que isso é ser bandido. Vejo pessoas que são contra o racismo e homofia, falando: "olha os tipos, tudo igual, tudo cabeludo bandido". Hipocrisia aqui, ali... e mais uma vez o Brasil perde ponto no quesito ideologia. Mais uma vez, são confundidos nossos valores. Mais uma vez, todos acabam sendo influenciados. Até mesmos os cults da revolução no campus. Ninguém nessa história está certo, nada disso merece tanta discussão, vemos preconceito em cada canto, vemos medidas drásticas sem necessidade, vemos o sensacionalismo tomando conta de nossas TVs, nos deparamos com ideias compradas e... repito o fato mais triste: ainda tem coisa pior e ninguém se move pra mudar, ninguém descruza os braços, ninguém sai pra rua. Interesse pessoal te faz gritar: quando você sente falta da maconha, vai fazer protesto. Não acho, sinceramente, que isso, em questão, seja errado. Mas você não vai soltar a voz para os desvios de verbas, por exemplo, de escolas públicas, vai? Não, você cresceu em escolas particulares e nada te faltou - não esquecemos que USP é sim elitizada, mesmo com as exceções. Você não sente fome, então não sente vontade de gritar contra aqueles que, cruelmente, ganham em cima daqueles que passam. E ainda querem que acreditemos que suas ideologias são politica e "socialisticamente" corretas. Isso me deprime, isso me deprime, Brasil...

domingo, 6 de novembro de 2011

Introdução.

Sempre dissera que sua vida parecia com uma novela mexicana. Nada de filmes adolescentes americanos. No-ve-la. Mexicana. Com direito e proveito de todo peculiar drama, exposto e sobreposto, escondido raramente, quase sempre escancarado. Carimbava todas suas experiências com tinta marcante: "isso é pra você aprender." Tudo acontecia de forma surpreendente, sem aviso prévio, e com um toque de doçura e ácida loucura, fazia sua novela. Na verdade, a deixava ser. Sem precisar pegar na caneta, contornava sua história, e borrava, pintava, amassava, rasurava, sujava, deixava cair mastigados, gotas de suor e de prazer, até beijava. Mas não jogava a folha fora.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Conto [8]

Ela não era de pensar muito antes de tomar pequenas decisões. Era impulsiva. Não era conservadora. Sim, era conservadora em certos costumes. Tinha uma boa educação. Mas era meio maluca, quando pequena parecia um moleque. Não subia em árvores, escalava. Andava descalça, não tinha nojo de barro, trocava brinquedos por papéis. Cresceu e batalhou para conseguir chegar onde queria ficar. Sua irmã mais nova acompanhou suas batalhas. Hoje, não sabe cozinhar. Por esse motivo, não seria a esposa perfeita de todo homem. E isso é o que a menos interessaria. Para atraí-la, use jaquetas, tenha um lindo sorriso, cabelo legal e um skate nos ombros. Entenda sobre super-heróis, mas não precisa querer ser um super-herói dela, ela é suficientemente independente. Quando ela encontrou uns olhos verdes especiais, se apaixonou. Não foi a primeira vez. Mas deu certo. Sabe quando dá certo? Não teve final feliz, nem chegou ao final. Muito pelo contrário, está tão no comecinho. Aqueles olhos verdes que desenham homem aranha e a fazem escutar Avril Lavigne realmente a conquistaram. E quando eu soube que conquistou mesmo, me assustou. É, eu sou aquela irmã mais nova que acompanhou suas batalhas. A irmã mais nova que como toda irmã mais nova às vezes tem aquele instinto de querer ser irmã mais velha da sua irmã mais velha. Mas depois lembrei que ela também tem medo de mim e das minhas escolhas, e isso é bem mais provável. Eu sou louca e olha os tipos que me interessa. Olha por quem eu já me apaixonei. Quando for a minha vez, provavelmente ela vai ficar com mais medo ainda. Medo de eu me machucar e aquele hábito de toda irmã, ou amiga que parece irmã, ainda mais irmã que é amiga, de querer deduzir se é bom o suficiente, se não vai dar merda, se será estável, se, no mínimo, será um relacionamento sob controle. Mas quer saber? Ela vai ficar feliz. Não sei o quanto, mas sei que não tanto quanto eu estou por ela e sempre vou ficar. Eu estou feliz por ela ter encontrado alguém que disque o número sem precisar do efeito do álcool, e não só de madrugada. Alguém que além de convidá-la para sua casa, também bota suas pernas pra funcionar e vai até a dela. Alguém que beije sabendo exatamente a medida dos seus sentimetos e que a conte sob esse tamanho. Depois de ver uma das pessoas pelas quais mais você se importa se machucar por outras miseráveis, que não tem muita coisa a acrescentar e tem como hobbie machucar os outros, você fica feliz quando a história muda. E quer saber? Quanto mais complicada e complexa for, é até melhor. Eu sou a maior fã de histórias reais estilo novelas mexicanas. Fico é muito feliz, pelo o-fi-ci-al. Alguém que me-re-ce sentimentos, merece meu respeito. Não aquele tipo de alguém que pensa que ainda vai encontrar a Shakira. E mesmo assim, falaria: "não sei, sabe, Sha, é que acho que estou esperando aquela minha amiga que canta pagode pra mim toda manhã." Alguém que um dia, e não precisa ser cedo, mas um dia, estará no sítio nos almoços de família, na varanda da casa da vó, na mesa no natal. Eu sou canceriana boba que acredita nessas coisas e muitas vezes já fiquei sentada em festas de família pensando: "e se fulano estivesse aqui?". Muitas vezes, pensando: "e se existisse algum fulano?" Isso mesmo, nem tinha rosto, o sujeito. Mas eu ficava, boba, imaginando eu de aliança preparando o vinagrete com a minha sogra, brincando com o priminho dele, mandando as primas folgadas ajudarem a lavar a louça. É, um dia vai ser assim. E eu tenho quase certeza que não será um cara-padrão. Sabe, daqueles bonitinhos, arrumadinhos, que você já esperava. Tipo os das suas primas? De topete e roupa de marca, de barba raspada e relógio caro. Tá, sem barba até pode ser, embora bem improvável... Mas por que estou falando de mim? Eu estava falando daquela menina que merece ser feliz todos os dias da sua vida, desde que o despertador toca até quando tira a lente e vai se deitar. Aquela que merece uma felicidade cheia, gorda, exponencial. Aquela que merece uma reação em cadeia de coisas boas. Sentimentos pequenos, bobos, e grandes, profundos. Aquela que merece a música da Avril Lavigne, porque deixa eu te contar, ela é o tipo que merece ser feliz. Sabe aquele tipo de pessoa boa? Pu-ra-men-te boa? Que de tão boa, te faz ficar feliz quando algo acontece pra ela que até te leva a escrecer um texto? Então. Aquela pessoa que merece o relacionamento mais lunático e intenso da cidade iluminada e barulhenta de São Paulo. Com direito a chuva, berros, chamadas perdidas, apelidos, músicas, desenhos, textos e uma cunhada coruja.