sábado, 24 de julho de 2010

Quando me refiro a "ela".

Ela se escondia atrás daquelas letras naquele papel rasgado, guardado na pasta verde na última gaveta da estante do seu quarto. Ela se inspirava em tudo, em lembranças e emoções, em fatos e em sonhos, na história e na ciência, no amor e na decepção. Seus amores, eram na maioria das vezes impossíveis. Ela era considerada lunática, e louca. Ela gostava mais do antigo do que do novo, mas o novo lhe despertava interesse também, curiosidade e atração. Mas nada de novo substituía o antigo, as músicas antigas, os filmes antigos, a vitrola antiga, a roupa antiga. Ela era pessoa de alma. Não era pessoa de calma. Ela queria mudar o mundo, perdeu o medo de ficar sozinha em casa e de um dia sair desta, indo atrás de seus sonhos. Seus sonhos, já não eram mais sonhos, se transformavam em planos. Sua ansiedade era despertada, seu coração acelerava e suas emoções surgiam, não nas mesmas situações que muitas de suas amigas, mas sim quando entendia, lia, cantava, cheirava a manhã, acordava mais cedo sem nada para fazer, quando escutava uma música cantada por alguma voz sublime, quando entendia um pouco mais sobre política, quando se informava sobre Ecologia, quando assinava petições ambientais, quando escrevia sobre sua indignação com a sociedade e sobre "aquela pessoa". Ela lutava pelos seus ideais e recebia em troca, muitas vezes, ingratidão, más palavras e atitudes desprezíveis. Não desistia das pessoas, por mais que elas a decepcionassem. Pensou em desistir das relações amorosas, mas algo a dizia que se perdesse a fé no amor, perderia tudo. Essa teoria, ela nunca rejeitou. E sofreu. Sofreu e aprendeu. Acreditava que muitas lições valiosas só seriam vindas com uma pitada de sofrimento. Não todas, mas algumas. E ela não queria perder nenhuma por medo de sofrer. Ela acreditava no sofrimento, no mal e na sua importância. Ela era contra guerra, mas fazia suas próprias consigo mesma, muitas vezes. Seu cérebro e seu coração não eram aliados, suas emoções e sua razão quase sempre discordavam. Isso fazia ela criar seu próprio inimigo e sua própria defesa. Não precisava de ninguém para questionar suas palavras e seus atos, ninguém para lhe impor uma norma, um certo e um errado, ela era capaz de fazer tudo isso. Ela recebia um elogio dócil de um e logo uma pedra jogada por outro. Ela achava que o mundo estava perdido. Ela discordava disso no outro dia. Concordava com Raul sobre ser uma metamorfose ambulante. Suas opiniões variavam, evoluíam, mas seus conceitos dificilmente. Sua ideologia era reforçada, e nunca reprimida. Ela não permanecia no padrão, estava sempre em busca de conhecer mais. Achava o mundo gigante demais para deixar de ser explorado. Tinha pena de quem passava pela vida sem descobertas e conhecimento, mais ainda de quem passava sem histórias e boas recordações. Valia da mesma forma a lembrança do primeiro amor, como da cidade natal. Amava o cheiro de fim de ano e da cidade molhada. Se considerava hipócrita como todos os Homens são, em algum contexto. Quando lia sobre Evolução não conseguia parar, virava a noite. Não se entendia muitas vezes, mas não achava isso totalmente necessário. O que realmente era necessário, para ela, era satisfazer o que sua alma lhe implorava, se havia mais coisas ou não ela ainda iria descobrir, mas disso ela já tinha certeza.

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