domingo, 22 de setembro de 2013

Ainda querer

É bonita demais essa música, composta por uma mistura deliciosa das vozes de Bob Dylan e Johnny Cash. Mas é triste demais ouvir isso sozinha. É uma felicidade que sai do nosso corpo, só devido algumas notas cantadas, mas que precisa ser compartilhada: com outra alma, com outro corpo. É muito triste sentir uma sensação tão boa em um espaço tão vazio. É muito triste estar sozinha em seu apartamento pensando nele. E todas essas uvas e essas bebidas e essa vontade de fumar. E esse livro de anatomia vegetal trocado por poemas do velho safado. E mais uma vez vendo as fotos dele e sentindo saudade do gosto e reproduzindo as vozes de Bob Dylan e Johnny Cash. "See for me that her hair's hanging down, that's the way I remember her best". Não adianta pensar que você merece coisa melhor ou tentar aceitar que não é esse tipo de cara que você quer pra você, vai sempre voltar a ver comentários da mãe dele e querer conhecê-la, dar de cara com a ex e sentir um ciume/insegurança/raiva inexplicável de gente idiota mesmo, ver a foto do sobrinho dele com uma blusa de dinossauros e achar fofo, voltar a conclusão de que, mesmo maluco, ele é mágico. E querer toda a imperfeição que tantas pessoas falam que ele tem, querer de novo, querer por uma noite, querer por mais vezes, querer de uma forma inexplicável e única, querer sem saber por quê, querer carnal e espiritualmente. Mas controlar o espírito é até mais fácil: você se distrai, você ouve Bob Marley, você enche a cara e enche a cabeça com preocupações profissionais. E o carnal fica cada vez mais difícil: você fantasia quando encontra, fantasia pensando em encontrar, fantasia e sai faíscas incontroláveis por cada parte do seu corpo, cada terminação nervosa, cada área sensitiva, com ou sem toques. E manda mensagens depois de meses sem conversas. E espera respostas e busca perguntas e se questiona se é isso o que quer e se questiona se precisa disso e se questiona sobre a vida e o quão breve ela é e o quão intensamente você a está vivendo e se isso é certo e o que é certo e se estaria feliz se morresse amanhã ou se teria alguma coisa que queria ter feito e se essas coisas estão ao seu alcance e entra em paranóia e chora e se sente uma imbecil por tantas perguntas e principalmente por não conseguir responder muitas e principalmente por ainda querer transar com ele.

domingo, 1 de setembro de 2013

recaíndo na madrugada

É como se todo o esforço não valesse a pena. É ver que ele não está online e não se importar com os outros curtirem a música que você acabou de postar. É como se, de alguma forma, dentro de você, você quisesse algum tipo de atenção, mas específica, de uma certa pessoa. É como querer se transformar em algo inanimado, para deixar de sentir dor. É como querer se transformar em algo vibrante, colorido, dançar tango em cima de um dinossauro, só para ver se assim chama a atenção dele. É voltar a escrever de madrugada. É perder dias de estudos ouvindo músicas. É regredir. É ter medo de voltar a sentir tudo. É ter que aceitar a - não primeira e tampouco última - recaída. É ter que começar a se acostumar com esse sentimento, por mais ruim que ele seja. É sofrer de abstinência. É querer engolir o perfume do corpo natural, morder o corpo e perder o controle da boca. É, é querer os sentimentos carnais de novo, querer voltar no tempo e não ter dito alguma coisa e ao mesmo tempo querer fechar o computador e parar de escrever tanta coisa. É saber que, enquanto escrevo, ele está, certamente, com outra. Ou não. É estar preocupada com ele não estar com outra. É querer que ele termine o curso. É desejar que ele vá embora, pelo meu bem e pelo dele. É se preocupar com o porquê das faltas em cálculo, é querer entender o que está acontecendo, o que ele quer, o que ele vai ser, o que está sendo. Ou é muita falta do que fazer. Na verdade, até tem, talvez seja falta de querer fazer. Se eu me concentrasse mais em minhas coisas talvez os detalhes dele não fariam mais participação especial nos meus dias. Vou tentar voltar às apostilas e deixar de lembrar do corpo, dos dentes, do atrito da barba na minha pele. E parar de escrever, de ouvir... talvez dormir. Ou assistir quando os dinossauros dominaram a terra. Mas isso vai me lembrar ele. E cadê o livro do Caio Fernando para me entender e me fazer esquecer? E que merda de nome. E que este texto jamais seja lido por outra pessoa, a não ser eu. Ou um melhor amigo, quando eu precisar desabafar mas estiver com preguiça de falar ou digitar. É mais fácil mandar o link de um texto secreto. E que seja secreta essa minha recaída. E que morram esses sentimentos. Por mais paz e amor que eu seja e não deseja nunca a morte de nada e ninguém. Mentira, não quero que morram, eles são tão bonitos, por que desejar a morte de... não, não são, eles me fazem perder tanto juízo, tanta concentração, eles me DESEQUILIBRAM. Parei de escrever e vou me despedir dos amigos. Vou tentar o método do "dorme que passa". Só não quero acordar amanhã necessitada de ouvir música e sentir vontade de chorar no ônibus. Não, eu tenho mais com o que me preocupar...