quinta-feira, 29 de julho de 2010

Uma possível carta.

Se fosse para lhe escrever uma carta, começaria, antes de tudo, colocando uma música para tocar. Não tanto pela inspiração, mas por simplesmente ser o meu remédio quando o assunto é você. A música te me lembra, te me envolve, me acalma e me apavora. Tocando então uma de nossas músicas, sempre facilita.
Engraçado que das mais tocadas do meu celular, mais da metade me lembra você. Será isso resultado daquelas noites em claro (como esta) por pensar em você? Ou daquelas tardes chorando pelo mesmo motivo? Talvez de tudo junto e mais... Sem me perder, voltando: se fosse para lhe escrever uma carta, de princípio já poderia afirmar que não seria curta. Seria longa, com um lembrete de que não sou boa para resumos, como no meu e-mail para você. Não começaria do início, porque eu não me recordo do princípio. Seria recheada de metáforas, hipérboles e, provavelmente, teria como destino a minha gaveta. Ou um blog secreto, talvez. Mas duvido que às suas mãos. Teria cheiro; sim, do meu perfume. Aquele que você conhece e fez questão de comentar que o reconhece como sendo meu. Teria que ser passada a limpo. Ou não, acho mais graça do rascunho, sinto mais sinceridade.
Esta carta de que estou falando, talvez te surpreenderia. Agora, se riria ou choraria, não tenho como adivinhar. Nem chutar. Faz parte do seu mistério, dessa sua característica relevante, impossível de passar despercebida, que se constitui de uma metamórfica indecisão; um simples e complexo talvez. Faria questão de citar coisas suas que me agradam e você não faz a menor ideia. Como o seu modo de falar e gesticular; seu velho jeans manchado no bolso traseiro direito; seu guarda-roupa azul; a forma como anda, como pressiona os olhos quando cansado; seu tom de voz constante em uma única nota; seu sorriso capaz de proporcionar inúmeras mistas sensações em sequências; sua risada geralmente sem som; seus braços com aparência de abrigo e ar de proteção; suas sobrancelhas comunicativas; as rodelas rosas nos ossos dos dedos de suas mãos; as nuances dos seus olhos; a variação da cor do seu cabelo quando na presença e ausência de luz solar; seus sonhos; sua adoração por desertos, futebol, cozinha, livros e debates; sua paixão pelo mar, pelo campo e pelos animais, inclusive hipopótamos; seu bom humor; sua exigência; sua coragem; a profundeza do seu olhar e o fato de conseguir me provocar, me entusiasmar e me derrotar... Escreveria, no mínimo, cem coisas que adoro em você.
Talvez, na carta, escrevesse de você, do meu amor pela admirável e sublime pessoa que você é (mesmo com defeitos, por vezes tão pesados!). Talvez sobre como seu perfume me embriaga, como sua embriaguez me enfurece e como sua fúria me transtorna. Talvez sobre como você faz eu me sentir; mas seria simplesmente tanto, que você se cansaria de ler. Ultrapassaria de longe os pequenos livros do Richard Dawkins. Talvez citasse músicas, trechos de livros, poemas, sonetos.
Talvez falasse de muito que já fiz e deixei de fazer por você. Dos choros engolidos, das risadas perdidas, do carinho e das chances desperdiçadas. Dos delírios acordada, sonhos ao deitar e aromas, seus, que eram capazes de me sugar a sanidade. Não precisei de álcool, cigarros ou qualquer droga para entrar em um vício, e profundo, impossível de sair. Mergulhei fundo, pois, mesmo com alguns momentos de dor, dilaceradas e devastadoras por muitas vezes, valia a pena cada momento de tremor e angústia quando sentia aquelas sensações dóceis, delirantes e prazerosas que me atingiam proporcionando-me o paraíso. Era uma força que me arrastava, puxando-me para mais fundo a cada gosto e aprovação do que eu sentia. E por mais que, ainda em consciência, negava aquilo e tentava ser forte e fugir de todas essas pequenas sensações, comparadas às outras realmente significantes e amáveis, simplesmente impossíveis de serem descritas e exemplificadas, acabava me permitindo ser tragada por tudo isso, e ainda implorava para que não tivesse fim.
Quem sabe confessaria também que, apesar de tudo que eu possa escrever, sempre qualquer tentativa de expressão parecerá superficial devido a simplesmente serem incompreensivelmente profundos, sinceros e fixos os meus sentimentos por você. E confessaria, por fim, que é incontável o quanto desejo ouvir de você que compreende que sou a única que te conhece tão a fundo e lhe quer tão necessariamente. Confessaria meu maior sonho, além de lhe ter aos meus braços; que é fazê-lo enxergar que a "pessoa certa" da qual você tanto fala e espera, esteve e continua ao seu lado. E pretende permanecer, até sair desse "seu lado" e ir a dentro de você.
Faria mais e mais confissões. Confissões que você não imagina, nem em sonhos, que possam ter a mínima chance de serem feitas, em qualquer circunstância, para você. Confissões do tipo que não há, simplesmente não há, quem possa substituir o que procuro em você. Não há bocas que me deem o beijo que desejo, não há abraços que me fazem os mesmos efeitos, não há pequenas coisas que tenham valores tão imensamente grandes, como quando se refere a você. Não há alguém que possa me oferecer tudo que você me oferece, mesmo sem saber, mesmo sem dizer; me balançar do jeito que você me turbula, me atrair do jeito que você me arrasta.
E eu sei que você é o único que eu quero, o único que me completa e é inútil outras pessoas cruzarem nossos caminhos. Sei que, independentemente de qualquer porém, simplesmente não é possível não ficarmos juntos. Sei que não há outra para você, além de mim.
Então continuo guardando meus beijos, minhas palavras e cartas. Esperando o dia em que tudo será para você, somente. E aí sim, tudo fará sentido.
Confessaria na carta que, se um dia lhe entregasse esta, teria um porquê além da compreensão, que nem eu talvez entenderia.

2 comentários:

  1. seus textos me trazem a sensação de estar lendo o que eu sempre procurei ler... não pra me sentir normal (haha) ou pra saber o que sente, mas pra ver que o que eu sinto, não é mentira, ou mais uma falsa ilusão. me identifico por sua essencia, a famosa intenção, por tras das palavras.
    continue escrevendo <3

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