sábado, 1 de outubro de 2011

Glória Interior

Quero que tudo passe logo. Sei que vai deixar muitas saudades e eu posso depois me arrepender por partes. Me arrepender por ter perdido algo. Abri mão de algumas coisas para receber um retorno que, talvez, não me venha. Passou rápido demais, e eu desejei isso cada dia deste ano. Também teve os momentos de medo, em que se trava, se quer paralizar tudo, não quer o relógio, não quer nem ouvir nada. Momentos em que eu deitava na minha cama e ouvia pelo coração o "Run, rabit, run...". Mas a gente admite. Sofre, claro, são nossas primeiras evidências de que sim, está passando rápido. E sim, como você queria, já estamos no final do ano. Mas e o medo? Continua ali, não perto de você, dentro mesmo. Agora quero mais ainda tudo de uma vez. Quero logo a viagem, a festa, o desafio, a lista, meu nome, bem grande. Arrumar as malas, dormir em outra cidade - minha futura cidade. Quero engolir o futuro. Quero meus próximos 4 anos. Quero poder gritar. E se eu conseguir poder gritar, gritarei tão alto, que as ondas sonoras do meu berro escancarado alcançarão os pássaros migrando os hemisférios. Cantaria "Valeu a Pena" tantas vezes, que eu acabaria me autotravando. Faria alguma loucura. Não é surpresa, fazer loucuras se tornou hábito, rotineiro, para mim. Mas faria mais algumas. Daquelas loucuras saudáveis, claro. Mas faria... algo bem babaca, talvez infantil, que não machucasse os outros, no máximo os fizessem rir. Eu riria. Riria por qualquer coisa. Pararia no caminho diante de uma poça d'água e a encararia. Riria da minha imagem. Minha felicidade, tenho certeza, contaminaria. Vazaria do meu corpo alguns raios de paz, eles passariam por qualquer barreira, fuzilariam qualquer metal, qualquer coração de metal. Quero essa felicidade logo, mesmo com um medo aterrorizante de simplesmente não condizirem com meus planos os planos da vida. Quero que passe logo, porque quero me livrar logo do tanto que carrego comigo indesejavelmente, dia após dias, só na acumulação. Quero o drama... passar por ele, vencê-lo, me sentir digna de glória. A tal glória interior, essencial na minha vida, assim como na do Caio Fernando Abreu.