segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sem tempo e sem espaço.

Hermeto Pascoal me lembra você. E aquela música que enfeita o cenário com lembranças de chuva, mês de julho e até cheiro do perfume mais suave. Não que eu queria reviver tudo, não há tempo nem espaço para isso. Não é que eu queira insistir em entender, querer entender até que é normal, talvez essa vontade permaneça imortal, mas insistir é pagar pra sofrer. Não é que eu queira te fazer mal, é que eu sei que minha distância não lhe diminui em nada, tal como minha presença talvez não lhe acrescente. Não é que eu queira fazer pirraça, fazer maldade, ser vingativa; mesmo se eu pensasse em tudo isso, sei que seriam todas inutilidades, uma vez que simplesmente não tem importância pra você. Apenas vou me afastar como já fiz antes, e talvez com mais desprezo, frieza e admito até rancor. Não que seja proposital, mas digamos que seja natural. Assistir àquela cena me deu mais um choque de realidade, e talvez eu precisasse, mesmo. Não que eu seja defensora do destino, nem acredito muito nele. Mas acontece que as coisas passam de uma forma tão incrível, que simplesmente não dá pra ser tão cético a ponto de nem apenas desconfiar, um pouco que seja, de que "tem que ser assim". Parece que uma situação completa a outra, um motivo é válido para outra situação e assim vai... tudo se encaixando de uma forma aparentemente mágica. Mas sei que não é mágica. Se o universo mesmo conspira, será que nos aguarda algo maior? Ou simplesmente tem que ser assim, desse mesmo jeito, com a mesma restrição? São tantas perguntas e possibilidades, que, por isso, desisti de entender, de nos entender, de te entender, de tentar entender por que você tanto fala que não gosta de tal tipo de mulher e a tenta beijar, por que quando eu peço um abraço diz junto um "te adoro", se esse tal respeito é verdadeiro ou pré-conceituado... desisto de tentar entender os anos, os olhares e as bobagens, tudo vai pra lixeira, de novo. E que se encerre, por definitivo, essa rotulada novela mexicana. Ontem pensei que se já esquecer você uma vez foi quase impossível, tão difícil, que não conseguiria de novo; hoje sei que tenho forças, pois da primeira vez eu estava completamente perdida, sozinha e cega, mas consegui. Agora, então, por que não conseguiria? Ainda mais tendo tanto em que me apoiar, tantos outros motivos, outras motivações, outras obrigações... não resta nem tempo. Nem tempo nem espaço.

domingo, 19 de junho de 2011

Entendendo e deixando de querer entender.

É engraçado ouvir músicas que havia mais de seis meses que você não as ouvia e pensar em como você se sentia naquela época e como está a sua situação agora. Uma lembrança de angústia e de felicidade privada, um alívio por ter se libertado de algo que tanto lhe destinava às lágrimas. Você lembra que houve momentos bons, lembra dos sorrisos sinceros que doava ao mundo, mas lembra perfeitamente bem também da tortura. Perdeu noites pensando e tentando entender algo que até hoje é indecifrável e propositalmente contraditório, perdeu tempo e colhe hoje consequências da dominação da fraqueza sob seu corpo e sua mente naqueles momentos. Mas enxerga um outro lado, com uma perspectiva mais madura, principalmente desiludida, entendendo muita coisa, abandonando outras. O bom é enxergar seus sentimentos, sem influência de paixonite-aguda-demais.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não voltar.

Clara olhou diretamente, não mais insegura ou com receio do que dizer ou rebecer como contra-argumento. "Você tem medo". E aquela voz firme e olhos arregalados trouxeram surpresas - sim, no plural. Além de uma negação incansável, um convite quase inecusável. Provocações a parte, a parte mesmo. Não era mais jogo de adolescente (nem acreditava nesse termo), não havia mais uma ligação social restrita, ambos eram animais, e aceitavam-se sendo assim, de fato. Clara não cedeu, não voltou a ser aquela antiga arremessadora de possibilidades, nem tentou controlar uma possível história - mais uma de suas loucuras. Conseguiu praticar o "let it be" e, mesmo com Vodca, não precisou fugir, esconder-se, ou fazer qualquer tipo de esforço. Talvez não precisasse por não ser mais aquela ingênua e indefesa, que acabara de descobrir os sentimentos, que se atrapalhou interamente por tudo ter sido novidade; era muita intensidade para pouca (nenhuma) experiência. Sentiu-se tão bem em poder continuar em pé - algo que já foi tão difícil, um dia. Que a pele iluminada, os dentes que brincam de desenhar sorrisos e a vestimenta a atraíram, isso sim. Mas não a possuíram (como antes). Foi somente carnal. Não foi hipócrita, negando seus desejos, mas também não foi fraca, deixando algum sentimento mais profundo aparecer em cena, nem nos bastidores. É outro ano, são outros interesses, ideias e também sentimentos. Foi perfuradamente doloroso o grotesco esforço para uma única saída. Prometeu a si mesma jamais abrir a porta novamente , tendo de voltar para aquele caminho pelo qual tanto sofreu na percorrida. (Sobreviveu). Que ainda tem curiosidade pelos lábios, talvez. Mas tem algo a mais: senso.

domingo, 5 de junho de 2011

Uma tendência a atraiar o incomum.

Desafio pessoas que pensem que tenham vivido histórias mais improváveis que eu. Comigo foi sempre assim, desde que eu me reconheço no espelho, cantando e com direito a nome artístico. Desde a quarta série, errando coisas bobas em matemática. Quando apaixonada, agindo de modo estranho: ao mesmo tempo que involuntariamente abro um sorriso, fico inteiramente gélida, por vezes tremo, depois aquece tudo de novo. Ele vem e vem junto o medo, vem um monte de pergunta, vem vontade de abandonar, desistir... tudo junto, constante; dá um certo choque, um embrulho comum no estômago, como sempre, em todas, mas em mim, garanto que de forma exclusiva. O que eu quero não dá certo, quem me quer eu não dou crédito. Ou é longe demais ou a diferença é demais, ou até mesmo há igualdade demais. Já, bricando, pediram para eu escrever um livro com as coisas que acontece comigo. É comum rotularem minha vida de "novela mexicana". Concordo então com os textos do Caio Fernando Abreu, por isso sempre recito aquela frase de um conto dele, que não falha pra mim nunca: "Dane-se, comigo foi sempre tudo ao contrário."

Sábado aqui, sábado aí.

Queria te escrever, mas as palavras ficam engasgadas. Sai a tosse que me incomoda mas não sai sequer uma palavra que possa aliviar um pouco de toda essa confusão, que me faça entender como estou me sentindo, como acontecia antigamente. Mas estranhamente - ou talvez não -, ouço "Oh, baby, baby it's a wild world.." e brotam em minha mente lembranças nítidas e doces, coloridas como o dia deste domingo, amargas e fugazes, frias como a temperatura das noites desta cidade neste mês, embaçadas como no clipe do Cat Stevens. "But if you wanna leave, take good care..." é exatamente o que eu desejo a você. Apenas se cuide. Apenas tenha um pouco mais de malícia na vida. Você pensa que entende muito, que a inocência se dá por idade, por certos atos, mas é um homem tão inocente, tão frágil, que acredita cegamente, despercebe interesses, despercebe carências mascaradas. Sabe, ontem eu estava voltando de madrugada no carro de outro, não, nada aconteceu, nada iria acontecer, era só um amigo. Mas estava um clima tão bom, tão diferente. Com mais pessoas no carro, cantando Kings Of Leon e o novo CD do Foo Fighters, você já ouviu? É muito bom... ontem mesmo estávamos comentando sobre a vinda deles ao Brasil, provavelmente iremos, lembrei de você. Você vai? Vai também ao Pearl Jam, né? Também estou combinando com uma amiga. Nada certo ainda, mas lembro do seu convite... e se, realmente, nos encontrássemos lá? Ah, tantas coisas em comum.. bandas, CD's que tocam no carro que corre a madrugada em busca de algum prazer pro sábado à noite, que nem aquela noite no seu carro, com Two Of Us... tantas semelhanças: domingo, jogo do Corinthians e eu aqui torcendo não como antes, contra, mas sim para a vitória: o que isso significa? Eu completamente me censuro esse tipo de atitude! É só futebol, que seja, mas não posso torcer para algo tão terrível, né? Será que eu sou a única que torce para o time adversário só porque isso te deixaria feliz? Talvez tenha quem não entenda isso, mas eu sei como é o seu amor por esse time, e como te deixa feliz... então, só de saber da possibilidade de um domingo desse lado aí, você feliz, sorrindo, com a camisa mais feia de time que eu conheço mas que fica absurdamente linda em você, festejando com cervejas e com os amigos, eu penso: "que se foda o futebol, quero ele feliz." Era segredo... estava guardando essa sensação pra mim, ainda não admitindo sentir tal coisa, mas que seja, agora já está passado pro papel, está concretizado até onde eu chego por desejar por você. Que minha família, inclusive meu pai, nunca leia este texto... Ah, tantas coisas, tantos sentimentos, até me perco... mas eu estava falando de ontem, né? Ah, claro, de ter voltado no carro de outro, com amigos, com música, sons de Dave Grohl e de risadas. Lembrei de você uma vez, enquanto voltávamos da outra cidade. Na estrada, veio um: "por que ele não pega o maldito carro e vem pra essa porcaria de cidade pelo menos um final de semana?" e logo depois alguma ideia de que você devia estar bem, com seus amigos, suas risadas e suas bebidas. Não houve sentimentos de culpa, de saudade, principalmente de carência exclusiva e determinada. (Há dois tipos de carência, aquela indeterminada, que você sente por vazio total e só quer matá-la,com qualquer alguém, qualquer beijo, qualquer corpo; e aquela determinada, que se dá exclusivamente por uma pessoa, que se tem por um determinado beijo e que só seria morta se assassinada pelo próprio corpo de quem a criou, partindo.) Se cuida, ouça muita música - continuo admirando bastante essa sua essência. Divirta-se, estuda - continuo te admirando toda vez que você fala o nome complicado da matéria que está estudando para a prova da faculdade. Enquanto isso, eu vou tentando perder esse costume de te admirar. Nos vemos final de semana que vem, se você vir, ou em algum show, se nos trombarmos, ou marcarmos, ou em algum bar, se eu for para aí, ou...