terça-feira, 25 de agosto de 2020

It's what you do to me.

  Eu consigo me lembrar dos poucos momentos em que eu senti uma sensação de paz e pertencimento e que eu desejava que aquele sentimento do momento não acabasse. A maioria aconteceu com conexões de anos, como com a Eliza em um domingo cochilando na sala ouvindo a trilha sonora de Amelie Poulain. Incrivelmente, um desses momentos aconteceu com você após em cerca de 1, 2 dias que te conheci. Em uma cama na Europa, com um corpo quente passando calor do lado, após uma noite que parece que teve carinho eterno na minha pele.

Há um ano, eu te vi de relance e inconscientemente isso me fez escolher uma mesa pra sentar com um outro homem. É como se os cosmos tivessem me aconselhado. Há um ano, um dia depois disso, eu senti esse sentimento de paz, pertencimento, felicidade, desejo-de-que-não-acabasse-nunca. Uma das minhas coisas preferidas em Everlong é que essa música conseguia descrever esse sentimento naquele momento. Eu lembro que eu pensava exatamente nessa parte da música, com um, até então estranho, americano do meu lado: "and I wonder... If everything could ever feel this real forever... If everything could ever be this good again.". Eu estava surpresa e levemente aterrorizada em nunca mais te ver, ou nunca mais sentir aquilo de novo com você ou com qualquer outra pessoa - porque esse tipo de sentimento é raro.

Acho que desde então esse medo, de que esse sentimento acabasse um dia, me acompanhou. Tanto que eu precisei passar por processos profundos de reflexão e aceitação pra entender que eu já vivia um relacionamento, quando todo mundo sabia, menos eu. Eu experimentei te deixar entrar, mesmo com medos, e escolhi te atualizar sobre eles. Um deles era de ter um relacionamento que acabasse. Eu aprendi com o tempo que esse medo não significava o medo de ficar sozinha, o que talvez fosse até mais esperado, mas sim de ter uma conexão e perdê-la. Eu acredito que não tenha mais esse medo de me entregar pra relacionamentos, porque se você não tivesse aberto essa parte de mim, a gente não teria vivido tanta coisa boa. E não há dor de término que tire a importância ou me faça me arrepender de ter me permitido a viver tantas borboletas no estômago, brilho no olhar e a experiência fantástica de entrar no ritmo e no íntimo de outra pessoa que te faz bem. 

Pela primeira vez, eu experimentei o sabor da reciprocidade: e era incrível. Eu descobri um mundo em que a reciprocidade é o mínimo que a gente tem que ter nas relações humanas, e eu me prometi nunca mais aceitar menos que isso. Não foi a reciprocidade que me fez me apaixonar por você, mas ela me ensinou que deve ser a primeira porta a ser aberta, antes de aceitarmos pessoas em nossas vidas e permitir que elas nos conquistem. Elevou meus padrões, aperfeiçoou minhas exigências, me presenteou um amadurecimento exponencial se tratando de uma relação de alguns meses. Eu sinto que essa esfera de amadurecimento se turbilhonou em você também, e isso é uma das coisas mais bonitas que eu poderia pedir dentro de um relacionamento, mesmo que ele chegasse ao fim: que ambos se tornassem seres humanos melhores, com maior e melhor autoconhecimento, além de, claro, vivermos sentimentos e experiências inéditas. Isso tudo eu sei que vivi e aprendi com você, e serei sempre grata por essa primeira, doce, intensa e nostálgica experiência.

Os sentimentos, as experiências, as incertezas e certezas, os planos e as coisas inéditas que aconteciam dia a dia, por menor que fossem... foi tudo tão inteiro, profundo, intenso e valioso pra mim, que eu não consigo ter isso pela metade, por partes, superficialmente, ocasionalmente. Eu pensava que não te ter na minha vida seria o pior sentimento pra viver nesse tempo, mas ter só pedacinhos de você dói tanto quanto. Eu tenho certeza que a pessoa com quem eu vivi e compartilhei os meus primeiros grandes sentimentos foi uma pessoa que eu merecia, que valia a pena arriscar, que valia a pena ser a primeira exceção. E eu tenho uma gratidão enorme aos cosmos por ter vivido e pela primeira vez realmente ter compartilhado algo com alguém. Com um homem que eu admiro, que se importa com as pessoas, com a sociedade, e comigo. Que é destemido o suficiente pra entrar em um banheiro que teoricamente tinha um invasor, pra me proteger de estradas escuras e desertas, mas também delicado o suficiente pra tentar acender uma vela estilo pré-modernidade só porque eu queria muito. Doce o suficiente pra usar uma pulseirinha até hoje sobre o filho dos seus amigos, que tem parte do seu coração tanto quanto as suas sobrinhas do seu próprio sangue. Atencioso e sensível o bastante pra lembrar de mim com vídeos de filhotinhos (sejam humanos ou pets). Inteligente o suficiente pra ser sexy trabalhando com um monte de número numa tela de computador, e sexy o suficiente pra eu querer congelar uma imagem em que todos os tons de azuis se combinavam (o céu, o mar, seus olhos e sua camiseta). 

Foi um ano incrível, com todos os sabores novos experimentados, o aprendizado sobre quem eu sou e quem eu sou como namorada de alguém, as visões que se gravaram nas memórias (desde a gente indo tomar café da manhã de mãos dadas em Amsterdam, a gente dirigindo na praia, ou eu passando creme no seu rosto na cama em uma noite fria em New York). E eu simplesmente não consigo deixar esse dia passar em vão sem tentar te falar um pouquinho de como tudo isso foi e é importante pra mim. Talvez porque eu sempre fui a louca das datas comemorativas, e esse é o primeiro "anniversary" que eu tenho com alguém, mesmo com as grandes aspas. Ou talvez porque é uma forma diferente que eu encontro de lidar com tudo isso.

 Mas algumas coisas são certas:

Você foi o homem que eu mais tenho orgulho de ter me envolvido; 

Eu tenho uma saudade imensa de ter você na minha vida, seja pertinho quando a gente se encontrava ou  mesmo distante mas no dia-a-dia se fazendo presente - inclusive, sendo mais presente e próximo do que muitas pessoas de fato fisicamente próximas de mim;

Uma vez que eu te tive por inteiro (e isso foi incrível), eu nunca conseguiria te ter por metades;

Eu não tenho medo de ser vulnerável e te dizer tudo isso;

and

...my world would never ever be the same, and you're to blame. (em um sentido muito, muito bom - de quem de fato fez uma diferença significativa e positiva na minha vida). 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Limites, monstrinhos e medos


Qual o seu limite? Uma traição noturna, construir uma casa para uma amante ou um tapa na cara? Um grito dentro de casa, uma ofensa na frente dos amigos ou uma mentira mesmo que inofensiva? Todos os anteriores ou nenhum e sim algo diferente? 

Quais os monstrinhos que vivem na sua mente? Os verdes que te dizem que você não tem valor, os azuis que te dizem que você está sendo enganada, os vermelhos que te fazem apertar o botão da autosabotagem ou os amarelos que te impedem de se comprometer? Todos os anteriores ou nenhum e sim monstrinhos de cores diferentes?

Quando que você começou a entender os seus medos? Logo na adolescência, quando iniciou a passagem por momentos desafiadores, na vida adulta, quando começou terapia, ou na velhice, quando já era tarde demais? Nenhum dos momentos citados? Em algum espaço-tempo no meio do caminho? 

Quando você começou a lutar para estabelecer seus limites, matar os monstrinhos e enfrentar seus medos? Tem medo de ser tarde demais? Minha ficha começou a cair com 25 anos, e eu escrevo sobre meus sentimentos desde os 16. Minha terapeuta disse que é normal que quando começamos a bagunçar as caixinhas, isso trazer dor; e eu, com 16, pensava que sabia o que era dor. Lembro claramente de um dia comum no banho em que eu literalmente me questionei: "É tão fácil viver, não tem dificuldade, é simples: é só fazer as coisas certas. É tão certo diferenciar o que é certo e errado, não devo ter muita coisa a mais pra aprender nessa vida (juro que pensei isso). Deve ser tão fácil se relacionar: você quer ficar com alguém e ama essa pessoa, então fica, se não ama e não quer, não fica, uai!" (juro juradinho que pensei isso). Eu lembro dessa Thaís com um sentimento nostálgico de doçura, uma admiração por uma menina inocente e que queria salvar o mundo e que queria sempre ser melhor, mas não fazia ideia do quão bagunçada ela era. Confesso que é um pouco frustrante ter passado por tantos anos sem entender essa bagunça, mas é reconfortante saber que pelo menos não morri sem saber um pouco mais a fundo sobre quem sou e por que sou. 
Embora eu não tenha respostas prontas e gabaritos, estou no começo da largada do meu entendimento e enfrentamento. Ao menos são sentimentos sólidos o suficiente para uma escrita. Ao menos é o suficiente para me fazer voltar a este refúgio específico. Quem sabe depois de um tempo eu releia este texto com uma mente mais organizada? Após uma ultra-super-mega-power faxina interior. Com menos nó no peito e mais orgulho de feitos. Com mais certeza ainda de que sempre houve e sempre haverá muito a aprender, e com o conforto de que sou melhor que as minhas versões de cada ano anterior.