segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Chuva.

Antes ela sentia medo da chuva, quando esta se manifestava, aquela fechava todas as janelas e se escondia por debaixo das cobertas amontoadas uma em cima da outra. Não enxergava a sutileza de uma tempestade e a bravura do choque de uma gota quando caía, inocentemente, por destino, no concreto do chão. Agora já observa a sequência das águas com um olhar mais perceptivo e até denominado insano por alguns. Entende como funciona o ciclo. Compara com suas próprias decisões e mudanças, simbolicamente. Acha graça das luzes da cidade iluminarem a chuva fraca, sente alívio pelas nuvens negras se descarregarem, tem lembranças com o barulho das rodas dos carros sob o asfalto molhado. Passa tempo acompanhando as danças das poças e se acreditasse em anjos acreditaria que eles estivessem descansando com tamanha paz e equilíbrio harmônico. Por um momento o mundo é calmo e puramente delicado, mesmo que esse mundo seja só o que consegue enxergar, mesmo que a delicada beleza se limite há alguns quilômetros de onde ela esteja. Deseja sentir mais isso e menos cansaço, angústia e agonia. O que antes lhe despertava medo e lhe incentivava o refúgio desesperador, hoje desperta curiosidade, admiração, interesse e identificação. Virou terapia, cura. Agradece todas tardes às chuvas de verão. Entende as devastadoras e vingativas, idolatra as primas das brisas.

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