quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não voltar.

Clara olhou diretamente, não mais insegura ou com receio do que dizer ou rebecer como contra-argumento. "Você tem medo". E aquela voz firme e olhos arregalados trouxeram surpresas - sim, no plural. Além de uma negação incansável, um convite quase inecusável. Provocações a parte, a parte mesmo. Não era mais jogo de adolescente (nem acreditava nesse termo), não havia mais uma ligação social restrita, ambos eram animais, e aceitavam-se sendo assim, de fato. Clara não cedeu, não voltou a ser aquela antiga arremessadora de possibilidades, nem tentou controlar uma possível história - mais uma de suas loucuras. Conseguiu praticar o "let it be" e, mesmo com Vodca, não precisou fugir, esconder-se, ou fazer qualquer tipo de esforço. Talvez não precisasse por não ser mais aquela ingênua e indefesa, que acabara de descobrir os sentimentos, que se atrapalhou interamente por tudo ter sido novidade; era muita intensidade para pouca (nenhuma) experiência. Sentiu-se tão bem em poder continuar em pé - algo que já foi tão difícil, um dia. Que a pele iluminada, os dentes que brincam de desenhar sorrisos e a vestimenta a atraíram, isso sim. Mas não a possuíram (como antes). Foi somente carnal. Não foi hipócrita, negando seus desejos, mas também não foi fraca, deixando algum sentimento mais profundo aparecer em cena, nem nos bastidores. É outro ano, são outros interesses, ideias e também sentimentos. Foi perfuradamente doloroso o grotesco esforço para uma única saída. Prometeu a si mesma jamais abrir a porta novamente , tendo de voltar para aquele caminho pelo qual tanto sofreu na percorrida. (Sobreviveu). Que ainda tem curiosidade pelos lábios, talvez. Mas tem algo a mais: senso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário