domingo, 8 de agosto de 2010

Portadora de saudades.

A saudade vai consumindo e, quanto mais distante nos vemos de algo que muito nos atingiu, profundamente, mais queremos inventar um instrumento que nos leve de volta para o passado, só para reviver certos momentos; sentir com mais anteção cada intensidade e cada movimento; cada toque do vento na pele; cada convivência com cada pessoa; cada abraço, cada calor, cada sorriso. E ouvir, atenciosamente, cada ruído de cada risada e de cada reclamação; cada crítica, cada palavra inocente e descuidada. Quando compartilhamos com alguém um momento, ou um conjunto deles, que, somente por ter sido compartilhado com esse alguém, é especial, e isso fica gravado em nossa memória, não existe um botão de delete; e mesmo se existisse, não seria aconselhável pressioná-lo, por mais que a saudade doa e destrua. Cada lembrança que descrevo em uma folha de papel, cada constante chuva de recordações que caem sobre mim a cada perfume que sinto, cada lágrima triste que me escorre na face quando me aperta o coração lembrando daquelas tardes de verão, e cada feliz, que me escorre mais brilhante, como consequência de um flash-back rápido, que corre em minha memória, repentinamente, me lembrando daqueles fins de tardes, são as minhas maiores riquezas; são as minhas maiores razões de querer viver e construir mais histórias e lembranças. São, de fato, o que me define, o que me colore, o que faz parte da minha imagem no espelho; o que, sem, não conseguiria me ver sendo o que sou, hoje, da mesma maneira. Minha vida não seria a minha vida sem cada coisa que vivi, cada pessoa que conheci, cada música que escutei e cada momento que compartilhei; em uma escola ou em outra, em uma cidade ou outra. É doloroso olhar para trás, mas é confortável saber que fui honrada de passar por momentos tão puros e graciosos. Agraço àqueles que passaram por mim, mesmo hoje não permanecendo ao meu lado. Agradeço àqueles lugares, àquelas pessoas, àqueles objetos, àqueles cheiros, àqueles barulhos, àquelas mudanças permanentes. E sinto falta; daquela escada, daquele jardim, daquela lousa, daquele muro, daquela quadra, daquele salão, daquela água; daquele grupo, daquelas inúmeras aventuras e daquelas diversas ideias. Sinto uma falta tão forte, tão imensa e constante, que isso não só doi como também explica. Explica muito; explica, como por exemplo, o fato de eu me considerar uma nostálgica incurável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário