sexta-feira, 30 de julho de 2010

Conto [1]

Minha amiga chegou acabada, chorando e pedindo ajuda, à minha porta. Não sabia o que fazer primeiro, perguntar o que houve ou sentá-la em minha cama acudindo-a e enxugando suas lágrimas. Fiz os dois, ao mesmo tempo. Me contou que acabara de romper o namoro de 6 meses com Renato, rapaz de extremo bom gosto, por estar com a princesa que era minha amiga. Rapaz bonito, bem informado, sociável, amigável e dócil. Um amor de pessoa, com todos e inclusive com ela; exageradamente com ela. Demonstrava a ela uma extrema importância e seu amor era sincero, acredite, leitor.
▬ Eu o adoro, mas não é a mesma coisa. Caiu na rotina, desencantou, não vejo nada além de amizade.
Dei um dos maiores conselhos que já dei em toda minha vida, até então.
▬ Entendo, amor. Entendo de verdade... Se lembra da situação parecida que recentemente passei, não? Toda a história com Sílvio. Sílvio... era um cara incrível; romântico, engraçado, inteligente, independente, responsável, amável e dócil... E o mais difícil, apaixonado. Era até demais. Eram muitas as palavras, as promessas, os sentimentos... Eu me sentia completamente culpada por não conseguir sentir por ele o mesmo que ele sentia por mim. Por que, com o cara perfeito, eu continuava desejando outro? O outro você também conhece, aquele de sempre, o único que me consegue tirar a sanidade. Passou um ano e em um ano ele se mantia constante nas palavras e no suposto amor, na suposta paixão grandiosa! Passei a me esforçar, tentei vê-lo como mais que um amigo, tentei enxergar nele um companheiro amante, mas era inútil. Apenas o via como um companheiro confidente... Até que comecei a sentir saudades dele, a querer os abraços dele. Comecei a me interessar por ele, não tanto quanto ele se interessava por mim, mas foi o início de algo..
▬ E ele?
▬ Ele continuava a me dizer coisas lindas, com valores absolutos!
▬ E você?
▬ Eu acreditava. Fui acreditando e aprendendo, conforme o esforço, a gostar dele. No final, quando estava disposta a esquecer tudo e todos, as mágoas e as pessoas que me impediam de ser feliz, e me entregar finalmente a ele e tentar uma história, tentar algo, nem que seja um beijo... ocorre tudo ao contrário; ocorre mentiras, alcoolismo e risadas sarcásticas. Ficamos um tempo sem nos falar, pois, no dia em que decidi tentar com ele, ele ficou simplesmente bêbado e nojento.
▬ Sim, me lembro dessa festa em que ocorreu tudo isso. Mas não me lembro como você encarou depois, simplesmente não a via mais falando dele. Vocês nunca mais voltaram a conversar?
▬ Um dia, decidimos. Na verdade, eu decidi. Só mais uma vez em que eu tive que tomar a decisão e assumir o papel do homem na relação.
▬ Te conheço. Deve ter falado tudo que lhe vinha a mente, boas respostas elaboradas e armadilhas de fazê-lo confessar e pedir desculpas!
▬ Falei. E ele mentiu mais ainda. Isso me afetou, e muito, pois o único cara que supostamente era o certo para mim, o perfeito, o que sentia tudo que ninguém mais sentia, muito menos aquele pelo qual eu sentia... A minha única garantia era simplesmente uma farsa! Aprendi a gostar dele a toa... Aprendi a ter sentimentos para simplesmente, depois de tudo, acabar me sentindo mal. Bom, se esta história está fugindo um pouco, vou logo para a questão. A questão é que não se aprende a gostar de alguém. Se existe destino ou não, a questão é simples: ou há uma conexão forte, que mantêm dois corpos e principalmente duas almas ligadas, independente do caminho delas ou de qualquer circunstância, ou simplesmente há outras coisas, outras atrações, outros gozos, outros índices de importância; mas essas coisas se encontram em outros níveis.
▬ Mas ele foi especial para mim! Foi muito...
▬ Você pode sentir algo por alguém, algo especial. Mas no momento em que deixa se acomodar, isso não deve ser mais forçado à voltar a ser especial. Importância não se cobra, não se exige, não se tenta possuir. Você não deve forçar sentir o que um dia você não vai nem poder pedir permissão. Acredite. Um dia, você simplesmente vai sentir e não importará se você aprova ou não essa decisão do seu coração ou da sua razão, que seja.
▬ E se sente a importância, mas esfria? Acomoda?
▬ Quando esfria, acomoda e você sente que não é a mesma coisa, é que simplesmente ele não é o que você precisa, por mais que você goste e se importe. Não adianta forçar uma necessidade. Um dia, você vai conhecer e se relacionar com alguém que te necessite da mesma forma. Impossível da mesma proporção, acredito, mas da mesma intenção, do mesmo grau de intensidade.
Com o Sílvio eu tentei. Posso ter conseguido sentir alguma coisa por ele. Mas no final só me machucou... O que prova que a minha estúpida ideia de tentar gostar de alguém, só porque ela te goste, não é boa.
▬ Mas, suponhamos que ele realmente fosse o certo. Não tivesse mentido, nem nada. Não valeria a pena tentar?
▬ Eu descobri que não no momento em que, depois de botarmos um ponto final na conversa, independentemente do quão triste fiquei pela nossa amizade, pelo carinho que sentia por ele e por ele mesmo, que dizia se sentir extremamente mal, eu continuei a minha vida; sem dor e arrependimentos. A história toda me tornou uma lição, algo do qual tirei proveito, mas não se tornou algo que parou a minha vida, que causou um efeito dramático.
No começo foi difícil. Chorei, claro. Fiquei triste, óbvio. Poxa, é uma história toda! Envolve sentimentos, pessoas... Mas depois de uns dias percebi que não me pegava pensando nisso, não me pegava querendo reatar as coisas, não me pegava chorando, desejando que ele não tivesse mentido... Ou seja, se eu não me senti tão mal assim, é porque ele simplesmente não era a tal pessoa capaz de me fazer sofrer, endoidar, tremer, varar noites, escrever... Essa pessoa era outra.; que pode mudar, mas no momento, darei o exemplo que você bem conhece. Aquele que, apenas com um sorriso, tira o meu sono; apenas com um toque, me faz delirar; apenas com uma conversa me provoca milhares de sensações... E é disso que preciso. é disso que todo mundo precisa! Você não precisa disso? Você não quer histórias dramáticas, chorar por uma briga, ligar de madrugada revoltada, dizer coisas sem nexo por ataques de ciúmes, querer de volta, brigar, beijar na chuva, reatar? Essas sensações profundas!?
▬ Quem não quer?
▬ E você imagina isso com ele?
Minha amiga balançou um pouco a cabeça dando-me uma resposta negativa, mas só pelo seu olhar deu para perceber.
▬ Essa briga, por mais que machucou os dois, machucou a fundo você também? A ponto de você querer se sacrificar para fazer diferente?
Se a resposta for não, você não tem porque se sentir culpada, você fez o certo. Errado seria você continuar com ele, alimentando esperanças, proporcionando momentos, palavras, que para ele teriam muita mais emoção e significado do que para você.
Uma lágrima escorreu no rosto da ex de Renato. E, em sequência, o quarto repleto de palavras conselheiras assistiu um momento que só duas melhores amigas entendem; o abraço depois de um desespero e um conselho.

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