segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Conto [2]

De repente, meses de dedicação são destruídos em um minuto de diversão.
Ela viu, ele reagiu, a outra não se importou. Ela saiu, ele continuou o beijo, a outra não reclamou.
No dia seguinte, ele tentou se desculpar. Sempre a culpa é da bebida.
Na noite seguinte, ela já soube o que queria. E não era mais ele.
Não foi fácil a decisão. Para uma apaixonada, ver tudo o que considerava ser a mais pura verdade se converter em traição, não resulta em nada menos do que um pote de sorvete mais chocolate, fotos, músicas e horas pendurada no telefone.
É depois desse momento então que as mulheres percebem em que categoria estão. Na das fortes, ou na das dependentes. Algumas continuam a depender de um perfume, de lembranças e de um canalha. Outras vêem a perda como um processo de amadurecimento. Em que momento exato é o teste? Na lavagem de roupa suja, claro.
Nem rodeava sombras de dúvidas de que poderia encontrá-lo lá. Depois de um dia fora da cidade, quando chegara em casa encontrou-o na sarjeta. Tentou ignorar, tentou entrar sem olhar, tentou fechar a porta.
Ele a puxou pelo braço, mas queria puxar seu coração. Queria tirá-lo dela, despedaçá-lo e fortemente apertá-lo. Pelo menos era o que parecia.
- Como eu pude? - começou Catarina.
- O que? Se apaixonar por mim?
- Me...
- Enganar? logo interrompeu, de novo, o futuro ex-namorado.
- Me sujar.
- Então se arrepende?
- Não, se não fosse pelo erro que passei com você, certamente não estaria pronta para um próximo passo.
- Você já deu o próximo passo?
- Estou só esperando a neblina ir embora para enxergar qual direção tomar.
- Então eu fui uma espécie de livro? Uma orientação para você aprender como lidar, se relacionar, e por fim ter felicidade com um outro alguém? E ainda tenho que ouvir que nunca te amei? É você que não sabe o que é ser fiel. Com apenas uma briga, larga os pontos. Agora entendo. Na verdade, nada nunca foi real.
- Percebi que nada era real quando acordei naquela festa.
Catarina tirou a aliança do dedo e relembrou de quando a colocou. Passara exatos 14 meses e 5 semanas com aquele anel de compromisso. Não era só de enfeite, nesse meio tempo Catarina não se atreveu a viver; vivia por ele, vivia para ele.
- Foi só um beijo. Bebi demais. Já expliquei. - disse ele com fúria.
- Agora é só um adeus. Chorei demais. Já decidi. - foi embora ela com dor.

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