quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Conto [8]

Ela não era de pensar muito antes de tomar pequenas decisões. Era impulsiva. Não era conservadora. Sim, era conservadora em certos costumes. Tinha uma boa educação. Mas era meio maluca, quando pequena parecia um moleque. Não subia em árvores, escalava. Andava descalça, não tinha nojo de barro, trocava brinquedos por papéis. Cresceu e batalhou para conseguir chegar onde queria ficar. Sua irmã mais nova acompanhou suas batalhas. Hoje, não sabe cozinhar. Por esse motivo, não seria a esposa perfeita de todo homem. E isso é o que a menos interessaria. Para atraí-la, use jaquetas, tenha um lindo sorriso, cabelo legal e um skate nos ombros. Entenda sobre super-heróis, mas não precisa querer ser um super-herói dela, ela é suficientemente independente. Quando ela encontrou uns olhos verdes especiais, se apaixonou. Não foi a primeira vez. Mas deu certo. Sabe quando dá certo? Não teve final feliz, nem chegou ao final. Muito pelo contrário, está tão no comecinho. Aqueles olhos verdes que desenham homem aranha e a fazem escutar Avril Lavigne realmente a conquistaram. E quando eu soube que conquistou mesmo, me assustou. É, eu sou aquela irmã mais nova que acompanhou suas batalhas. A irmã mais nova que como toda irmã mais nova às vezes tem aquele instinto de querer ser irmã mais velha da sua irmã mais velha. Mas depois lembrei que ela também tem medo de mim e das minhas escolhas, e isso é bem mais provável. Eu sou louca e olha os tipos que me interessa. Olha por quem eu já me apaixonei. Quando for a minha vez, provavelmente ela vai ficar com mais medo ainda. Medo de eu me machucar e aquele hábito de toda irmã, ou amiga que parece irmã, ainda mais irmã que é amiga, de querer deduzir se é bom o suficiente, se não vai dar merda, se será estável, se, no mínimo, será um relacionamento sob controle. Mas quer saber? Ela vai ficar feliz. Não sei o quanto, mas sei que não tanto quanto eu estou por ela e sempre vou ficar. Eu estou feliz por ela ter encontrado alguém que disque o número sem precisar do efeito do álcool, e não só de madrugada. Alguém que além de convidá-la para sua casa, também bota suas pernas pra funcionar e vai até a dela. Alguém que beije sabendo exatamente a medida dos seus sentimetos e que a conte sob esse tamanho. Depois de ver uma das pessoas pelas quais mais você se importa se machucar por outras miseráveis, que não tem muita coisa a acrescentar e tem como hobbie machucar os outros, você fica feliz quando a história muda. E quer saber? Quanto mais complicada e complexa for, é até melhor. Eu sou a maior fã de histórias reais estilo novelas mexicanas. Fico é muito feliz, pelo o-fi-ci-al. Alguém que me-re-ce sentimentos, merece meu respeito. Não aquele tipo de alguém que pensa que ainda vai encontrar a Shakira. E mesmo assim, falaria: "não sei, sabe, Sha, é que acho que estou esperando aquela minha amiga que canta pagode pra mim toda manhã." Alguém que um dia, e não precisa ser cedo, mas um dia, estará no sítio nos almoços de família, na varanda da casa da vó, na mesa no natal. Eu sou canceriana boba que acredita nessas coisas e muitas vezes já fiquei sentada em festas de família pensando: "e se fulano estivesse aqui?". Muitas vezes, pensando: "e se existisse algum fulano?" Isso mesmo, nem tinha rosto, o sujeito. Mas eu ficava, boba, imaginando eu de aliança preparando o vinagrete com a minha sogra, brincando com o priminho dele, mandando as primas folgadas ajudarem a lavar a louça. É, um dia vai ser assim. E eu tenho quase certeza que não será um cara-padrão. Sabe, daqueles bonitinhos, arrumadinhos, que você já esperava. Tipo os das suas primas? De topete e roupa de marca, de barba raspada e relógio caro. Tá, sem barba até pode ser, embora bem improvável... Mas por que estou falando de mim? Eu estava falando daquela menina que merece ser feliz todos os dias da sua vida, desde que o despertador toca até quando tira a lente e vai se deitar. Aquela que merece uma felicidade cheia, gorda, exponencial. Aquela que merece uma reação em cadeia de coisas boas. Sentimentos pequenos, bobos, e grandes, profundos. Aquela que merece a música da Avril Lavigne, porque deixa eu te contar, ela é o tipo que merece ser feliz. Sabe aquele tipo de pessoa boa? Pu-ra-men-te boa? Que de tão boa, te faz ficar feliz quando algo acontece pra ela que até te leva a escrecer um texto? Então. Aquela pessoa que merece o relacionamento mais lunático e intenso da cidade iluminada e barulhenta de São Paulo. Com direito a chuva, berros, chamadas perdidas, apelidos, músicas, desenhos, textos e uma cunhada coruja.

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