domingo, 5 de agosto de 2012

Crises e gritos

Estou a flor da pele. Meus medos mexem com meu corpo e com a minha mente. Minhas dúvidas estão me cobrando. Acordo me estranhando e respiro querendo saber quem eu sou, querendo descobrir a essência que há dentro de mim, querendo me entender, pois por mais que eu me entendesse há alguns anos atrás, hoje me entendo de outra forma e isso é tão confuso que eu chego a não entender mais nada! Quero saber qual é o meu propósito, quero saber o que vou fazer para este mundo, o que vou fazer com a minha vida, quero compreender o que eu acredito - e se eu realmente acredito. Quero saber quais são os meus porquês, minhas defesas. Às vezes tudo parece tão sólido... e um dia, do momento de uma vista para a paisagem, girando a direção do olhar um pouco mais pra dentro - dentro de mim mesma: tudo está desmoronado. Destruído. Despedaçado. Sentimentos, ideias, gritos e crenças. E eu tenho que ir lá, catar tijolinho por tijolinho pra reconstruir tudo de novo. Mas não sei mais se a base que tenho é suficiente, se meus materiais dão conta, ou se esse edifício construído de achismos e certezas e vaidades e ideologias e paixões vai simplesmente desabar de novo daqui alguns anos, repentinamente. E é provável que sim, que vá! Porque estamos mergulhando em constantes mudanças, mesmo quando não queremos, mesmo quando optamos por não aceitá-las: faz parte do processo. Esse processo que fazemos parte, desde o momento em que nascemos. Mudança é imposição da vida, independentemente do seu gosto ou da sua aprovação. Mas é difícil você construir um prédio quando você sabe que a base é um mar. Quando você já não se engana mais, como aquelas menininhas na praia, que vão, na maior inocência, com suas delicadas mãozinhas, construir um castelo e choram - com pureza - quando ele desaba. Mas, com a mesma inocência, vai lá e reconstrói. E fica nesse ciclo deprimente e bonito. Você cresceu: e agora sabe que toda vez que seu muro desabar, você vai ter que construí-lo sob bases nada firmes: um mar. Mas sem o fundo do oceano... trato somente da água da superfície. Essa sensação mesmo, de estar equilibrado e dependendo apenas da água que você enxerga do mar, como se não existisse nenhum solo mais pra baixo. Nessas horas a gente meio que aciona uma alarme, uma fuga instantânea. Na maioria das vezes, essa fuga se direciona à sua casa: da onde você veio, com as pessoas que te conhecem melhor e te fazem sentir bem. Seja qual for ele, essa especie de refúgio acaba sendo contaminada por essas mesmas dúvidas também. A crise cresce tanto, que faz você se questionar até mesmo sobre essas coisas tão boas e puras. E isso é horrível. Você, então, está sozinho. Sozinho consigo mesmo, sem ninguém pra te dar respostas: porque não há respostas. Sem ninguém pra te dizer qual é o caminho, pois você tem que decidir, com sua solidão, qual caminho quer seguir. Isso é bonito, sim, é bonito esse mistério da vida, esse jogo que ela nos desafia. Mas também é tão assustador... às vezes dá até um desespero, principalmente quando nos sentimos assim, tão pequenos, tão migalhas diante de perguntas tão gigantescas, que carregam pesos tão grandes e simplesmente tropeçam em cima da gente. Não tenho respostas e não sei se as quero agora. Não quero ir atrás de tentar entender tudo isso agora. Não quero um abraço agora, não quero fingir que nada aconteceu. Meu único sentimento, agora, é uma vontade imensa de gritar. Mas tem gente demais aqui. Sou cercada por tijolos demais, cimento demais, cinzas demais. PESSOAS DEMAIS. Vivo em uma sociedade que construiu leis e morais. Se eu atravessasse minha cabeça para fora da janela agora e soltasse um som, seria punida. Eu quero estar longe dessas punições de se fazer o que sente, desde que não fere o outro. Meu grito não fere ninguém. Se, de alguma forma, prejudicar, ainda por cima é porque é o corpo da pessoa que se atreveu a estar no mesmo espaço que o meu grito. Por que tenho que culpar minha vontade? Corpos se locomovem, gritos são mais radicais: ou saem ou ficam. E eu tenho que ficar aqui prendendo dentro de mim algo que quer tanto sair, mas tanto... Quer sair de diferentes formas: se fantasiar de música e sair como melodia, vestir capa de poema e sair como timbre. Quer se libertar desse corpo e pertencer ao universo. Queria um lugar longe, vazio, sem pessoas, no qual meu grito repercutisse em um eco tremendo. Essa imagem me traz uma sensação de paz, utopica e deliciosa. Mas prazerosa que dói. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! Escrever alivia.

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