quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Música boa".

Então as pessoas gastam suas energias rotulando. Insistem em materializar tudo. Você não pode nem mais apreciar uma música, tem que saber de que álbum ela é, de que ano e quais as outras faixas do álbum. Um absurdo. Uma coisa é você dizer: "eu gosto tanto desta música, que sei até o álbum dela, o ano em que foi composta e gravada, a cor preferida de gravata do cantor e até mesmo as outras faixas do mesmo álbum." Outra coisa é você simplesmente apreciar a música. Eu espero por um mundo onde as pessoas apreciem música. Independentemente de rótulos. Claro que também me estressa e, digamos que até mais, me deixa "alheimente envegonhada", quando uma pessoa que não entende nada de música boa quer estampar na cidade inteira que está ouvindo uma de uma banda considerada "cult" ou qualquer dessas coisas. Mas é porque muitas dessas pessoas só querem estampar na cidade que estão ouvindo a tal música, vai saber se realmente gostam. Se admiram, estudam a letra, a melodia, se entregam aos solos de guitarra ou de pandeiro. Se sim, ótimo. Pode estampar, a autoestima é sua e se é assim que quer levantá-la... pior, pois só vão ficar alheiamente envergonhados com você. Se você ouviu a bendita música e sim, sentiu arrepios, ouviu a voz pelo coração, apaixonou-se pela combinação de uma música cuja letra é bonita, os solos são bonitos, a melodia é bonita, afinal, a música é bonita... fico feliz. É pra isso que as músicas estão aí. Para serem ouvidas e admiradas. Serem recantadas. Pra uma pessoa, mesmo que não entenda muito de música, se apaixone. Isso é beleza. E eu continuo esperando por um mundo no qual as pessoas apreciem música. Quando minha amiga, acostumada a ouvir eletrônico e desconhecendo qualquer tipo de rock clássico, me pediu para "voltar naquela música" que eu estava passando na minha Lista de Reprodução do Pink Floyd, no celular, eu achei estranho, de princípio. Soltei: "Você conhece?", surpresa. E ela conhecia. Fiquei tão, tão feliz. Ela disse que seu pai colocava pra tocar na chácara dela, e ela ficava viajando com a tal música, que achava linda. Pra quê me desgastar condenando-a? Só porque, realmente, era a única música do Pink Floyd que ela conhecia? Fiquei é, realmente, muito feliz. Pois ela conhecia uma música do Pink Floyd e isso já está de bom tamanho, ainda mais nos dias de hoje, com uma juventude como a de hoje. Coloquei a música, Comfortably Numb, e ficamos ouvindo os minutos longos e afinados de David Gilmour. E é assim. Fico feliz quando alguém conhece uma música boa. E fico feliz quando me perguntam uma música boa e eu não conheço, mas passo a conhecer. Sobre as não-merecidas-músicas... espero que a mídia pare de enfiá-las à nossa guela abaixo, um dia. Mas, enquanto não, vamos admirando as músicas boas. E esperando por um mundo em que as pessoas saibam cultivar uma cultura sem essa necessidade vazia de rotular, e até mesmo limitar. Vá ouvir Floyd, Hendrix, Airplane. Ouça também Carpenters, Chico e Veloso. Não é porque você é do rock'n'roll que não pode ser da bossa nova. E não é porque Hermeto Pascoal é gigante, que você teria que ser gigante pra conseguir acompanhá-lo. Sente a música? Entenda, é uma questão de sentir. E "música boa" faz sentir, faz sentir diferentes sensações, faz "viajar", delirar. Mas provoca mudança. Mudança de estado, de humor, de perspectiva, de espírito. Muda. Penetra. Você sente.

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